quarta-feira, 30 de novembro de 2022

UM AUTÓGRAFO ESPECIAL (1965)

(Post by Jota Marques)

"CARMEN" EM PORTUGUÊS

 
Editora: Hugin Editores, Lda
1ª edição: Junho de 1998
Capa: Graça Morais
Fotografias: Fernando Bento e Luís Machado
Dimensões: 152 X 222 X 80 mm
Nº de páginas: 160
ISBN: 972-831-071-4
Versão livre da ópera de Georges Bizet, a partir da novela de
Prosper Mérimée e do libreto de Henry Meilhac e Ludovic Halévy


Esta "Carmen" em português, nascida de um convite do maestro Giuseppe Raffa, subiu à cena 123 anos após a estreia mundial em Paris, no Teatro da Ópera Cómica, a 3 de Março de 1875, com Galli-Mariée na protagonista principal. Se grandes intérpretes como Luciano Pavarotti, Placido Domingo ou José Carreras acessibilizam as grandes árias do canto lírico através de espectáculos largamente mediatizados, é legítimo e meritório que grandes óperas como "Aida", de Verdi ou "Carmen", de Bizet, fiquem ao alcance de dezenas de milhares de pessoas na língua que falam quotidianamente. Este não é um livro de poesia, nem uma peça de teatro, nem um guião cénico. É apenas um libreto de ópera que obedece às rígidas regras canónicas que uma estrutura musical impõe. Como tal deverá ser lido e entendido, pois foi criado apenas para funcionar nesse contexto: o de pôr "Carmen" a comunicar em português com o seu público. (Os autores, Lisboa, 7 de Abril de 1998)


REQUIEM PARA CARMEN

                          Cigana
                         Carmen
                         Meu amor

                         Lábios cor de fogo
                         Seios macios e brancos
                         Ventre de gazela ardendo

                         Minha fogueira
                         Minha sede
                         Minha ilha

                         A praça do destino
                         Estava cheia
                         De ti
                         E era dia de festa

                         O céu de Sevilha
                         Tinha a cor dos teus olhos
                         Quando o sangue soube
                         Da tua morte

                         De ti
                         Vento cigano de liberdade
                         Direi que não partiste

                         De mim
                         Ó minha doce feiticeira
                         Dirão que te matei

                         Morreste
                         Mas ainda estás viva
                         E eu vivo ainda
                         Nesta paixão
                         Em que ambos vivemos
                         A nossa própria morte

(Luís Machado)
(Post by Jota Marques)

terça-feira, 29 de novembro de 2022

da ESCRITA e da LEITURA


(rima fácil)

*

Não há Livros nem Leituras
sem as Penas e os Tinteiros…

e para que saibas escrever,
com graça sábias escrituras.

Bem como, sem
uma Acertada Inspiração, tu, 

onde puseste os olhos, certeiros, 

não saberias pôr a Mão!



§ 

(Post by Zé Marrana)

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

GRAHAM GREENE

O Americano Tranquilo Romance 
ULISSEIA Clássicos da Literatura Contemporânea

*


Graham Greene,1964
(c) Yousuf Karsh, 
master photographer of the 20th century
   
 


§



domingo, 27 de novembro de 2022

A TU LADO


A TU LADO
(Mikel Erentxun/Duncan Dhu, 1994)

Pienso en ti
interminablemente en ti
quiero ser
una respuesta para ti
pienso en ti...
 
Creo en ti
inagotablemente en ti
como tu
que confiaste en mi saber
creo en ti
solo en ti
 
Y despertar a tu lado
cada amanecer
y hace rodar mis labios
sobre tu piel
creo en ti
 
Estoy en ti
desesperadamente en ti
y hasta hoy
he aguantado sin hablar
estoy en ti
solo en ti
 
 
A TEU LADO
(Mikel Erentxun/Duncan Dhu, 1994)

Penso em ti
interminàvelmente em ti
quero ser
uma resposta para ti
penso em ti...
 
Creio em ti
inesgotàvelmente em ti
como tu
que confiaste no meu saber
creio em ti
sómente em ti
 
E despertar a teu lado
cada amanhecer
e fazer rodar os meus lábios
sobre a tua pele
creio em ti
 
Estou em ti
desesperadamente em ti
e até hoje
aguentei sem falar
estou em ti
sómente em ti

(Post by Jota Marques)

O FIM DA AVENTURA

Escritor inglês nascido a 2 de Outubro de 1904 em Berkhamsted, e falecido a 3 de Abril de 1991, na Suiça, Henry Graham Greene, viveu um infância difícil, foi jornalista (1926-1929), crítico de cinema (1935-1939) e director literário de vários jornais e editoras. Formou-se na Universidade de Oxford, e começou a sua carreira como jornalista trabalhando como repórter e subeditor do The Times. Publicou cerca de 60 romances. Ao longo da sua vida, Greene esteve em vários países bem distantes da Inglaterra, aos quais ele se referia como lugares selvagens e remotos do mundo. Em 1935, visitou África (especialmente a Serra Leoa e a Libéria), onde, além de buscar material para os seus artigos no The Times e para um futuro livro ("Journey Without Maps"), também prestou serviços à Anti-Slavery and Aborigines' Protection Society. As viagens levaram-no a ser recrutado pelo MI6, o serviço secreto britânico, por meio da sua irmã, Elisabeth, que trabalhava para a organização, tendo sido enviado para a Serra Leoa durante a Segunda Guerra Mundial. Muitos dos seus romances, a partir de então, tiveram como tema ou pano de fundo a espionagem. Nos seus romances, o escritor retrata pessoas que encontrou e lugares onde viveu. O seu primeiro livro de sucesso foi "O Expresso do Oriente" (1932). Entre outras obras, incluem-se "O Poder e a Glória" (1940), "O Nosso Homem em Havana" (1958), ou "O Factor Humano" (1978). Muitas das suas obras foram adaptadas ao cinema. Outra temática frequente nos seus livros é a religião. Tendo-se convertido ao catolicismo em 1926, os dilemas morais e espirituais de sua época eram representados por intermédio das suas personagens. Graham Greene foi considerado o maior 'escritor católico' da Grã-Bretanha, apesar da sua resistência em ser retratado dessa maneira. Em 1937, Greene era editor da revista literária britânica Night and Day e escreveu uma crítica sobre o filme "Wee Willie Winkie" (1937), interpretado por Shirley Temple, então com oito anos. O texto assinalava a coqueteria da pequena actriz e o efeito que ela provocava entre homens de meia idade e clérigos. Em consequência desse comentário, Greene foi alvo de um processo judicial movido pela Twentieth Century Fox. Temendo ser preso, o escritor refugiou-se no México, país que não permitia a extradição — e que inspiraria o seu livro "The Power and the Glory".

Título original: "The End of the Affair" (1951)
Editora: ASA Literatura (Fevereiro de 1995)
Tradução e Prefácio: Jorge de Sena
Dimensões: 130 X 195 X 20 mm
ISBN: 972-411-524-0
Nº de páginas: 270

Neste "O Fim da Aventura", a relação amorosa do romancista Maurice Bendrix com Sarah Miles inicia-se nos tempos turbulentos do Blitz, em Londres. Mas, um dia, sem explicação, Sarah termina abruptamente a ligação entre ambos. Parecia impossível que pudesse existir um rival no coração de Sarah, mas mesmo assim, dois anos depois, levado por um ciúme e uma dor obsessivos, Bendrix contrata um detective privado, Parkis, para a seguir e descobrir a verdade. Entre os mais importantes escritores do século XX, Graham Greene sempre foi apontado como referência moral. Viajante incansável, colheu as simpatias de socialistas e de católicos, embora tenha sido um católico crítico. São muitos os que louvam a sua arte: a capacidade rara de nos surpreender e comover com romances que aliam o saber contar à argúcia com que capta o que de mais profundo e de mais humano existe em nós. "O Fim da Aventura" é um dos seus grandes romances.

«Diz-se da eternidade que é,
não uma extensão do tempo,
mas uma ausência dele.
Os amantes ciumentos são mais respeitáveis
e menos ridículos que os maridos ciumentos.
Os amantes traídos são trágicos,
nunca são cómicos.»
(Graham Green)

Maurice: «Tenho ciúmes desta meia»
Sarah: «Porquê?»
Maurice: «Porque ela faz o que eu não consigo: Beijar-te a perna toda. E também tenho ciúmes deste botão.»
Sarah: «Pobre, inocente botão.»
Maurice: «Não é nada inocente, está contigo o dia inteiro. E eu não.»
Sarah: «Suponho que também tenhas ciúmes dos meus sapatos?»
Maurice: «Sim.»
Sarah: «Porquê?»
Maurice: «Porque eles te levam para longe de mim.»


Esta é a segunda e feliz adaptação ao cinema de “The End of the Affair”, um dos melhores romances de Graham Greene, cuja narrativa semi-autobiográfica dramatiza a relação do autor com Catherine Walston, a amante de Greene na vida real que faleceu com 62 anos em 1978. Segundo o biógrafo do escritor, Michael Shelden, Catherine não permitiu que Greene a visitasse antes de morrer por não querer que ele a visse no adiantado estado de doença em que se encontrava. Em 1955, Edward Dmytryk fez a primeira versão com Van Johnson e Deborah Kerr nos principais papéis. Neil Jordan pode agora considerar-se com mais sorte ao poder contar com Ralph Fiennes e sobretudo Julianne Moore para os papeis dos dois amantes. Sem esquecer Stephen Rea, que compõe de igual modo magistral a figura do marido enganado cujo amor pela mulher é capaz de aguentar qualquer sacrifício.

Esta é uma história de amor. Do amor das personagens, do amor dado pelos intérpretes, do amor pelos curtos segundos que só o cinema parece conseguir filmar. Mas todo o filme gira também à volta da culpa, essa consequência natural de um catolicismo tortuoso, tão comum na época e uma das imagens de marca dos romances de Greene. Culpa de amar e ser amado, culpa de desejar a felicidade por cima das convenções mundanas. Os personagens movem-se em terrenos desgastados pela moral vigente, que faz cansar e até desesperar quem procura libertar-se da tutela do divino e viver simplesmente uma vida terrena, em toda a sua plenitude.

Neil Jordan confirma mais uma vez o amor com que dirige os seus actores cujos desempenhos são essenciais na elegante fluidez deste filme admirável. A realização chega a atingir patamares poéticos de um lirismo raro no cinema da actualidade, apesar de não se coibir de mostrar o lado mais erótico da paixão. No fundo é todo um mosaico de emoções que está subjacente à relação amorosa e que Jordan filma de maneira exemplar, fazendo lembrar por vezes o classicismo de um “Brief Encounter”, de Lean. O recurso a flashbacks repetidos mas vistos por perspectivas diferentes dá ainda mais a noção da inquietude dos sentimentos que envolvem cada um dos dois amantes. "The End of the Affair" é também uma grande produção inglesa, com os seus específicos valores: reconstituição histórica imaculada, desempenhos sólidos do elenco, fotografia, música e montagem de primeirissima grandeza, tudo a funcionar em pleno para um objectivo maior.

Apesar da atmosfera romanesca e de nostalgia com que os cenários recriam a Londres dos anos da Guerra (a que não será estranha a bela partitura musical de Michael Nyman), a cidade como que se situa em segundo plano face à claustrofobia revelada pela câmara de filmar em volta dos dois amantes. Nunca vi a versão dos anos 50 (uma obra menor ao que tenho ouvido dizer) mas li o livro de Greene, que me foi oferecido por uma rabiteza especial, pouco tempo depois de termos visto o filme juntos, numa sala do Monumental-Saldanha. E Jordan consegue efectivamente extrair do romance a complexa teia de sentimentos descrita pelo escritor. Muita coisa é diferente mas um filme não é literatura, vai muito para lá das palavras escritas em papel. Julgo apenas que a cena final do “milagre” (a mancha que desaparece da face da criança) é desnecessária, até porque semi-ausente no romance (o assunto é abordado mas sem o ênfase colocado no filme), podendo erradamente ser interpretada como uma espécie de “recompensa” pelo sacrifício da relação amorosa.


O único final apropriado é mesmo todo o ódio de Bendrix para com um Deus que lhe retirou o grande amor da sua vida: «Não tenho paz, e não tenho amor, a não ser só por ti, Sarah. Sou um homem de ódio. Deus, conheço a tua astúcia. És Tu quem nos leva a uma altura, de onde nos ofereces o universo inteiro. E és um demónio porque nos tentas a saltar. Eu, porém, não quero a tua paz, nem quero o teu amor. Eu queria algo muito simples e muito fácil: queria ter Sarah a vida inteira, e Tu levaste-a. Com os teus grandes desígnios arruínas a felicidade humana como o ceifeiro, nos campos, destrói um ninho de ratos. Odeio-Te, Deus, odeio-Te como se existisses. Já fizeste bastante, já me roubaste bastante, sinto-me por demais cansado e velho para aprender a amar. Deixa-me em paz para sempre!»

Termino com a citação de parte de um artigo publicado por Linda Santos Costa na revista “Leituras” do jornal Público de 8 de Abril de 1995: «... Que faz da história de amor em tempo de guerra, que é “O Fim da Aventura”, um romance que nos fascina e comove até às lágrimas? Explicá-lo seria o mesmo que explicar o amor, cedendo à tentação de o reduzir às secreções internas que regulam a intensidade dos impulsos passionais e levam a falar de uma “química do amor”, pois há muito, nesta história, que releva da forma como está construída: a sábia alternância de pontos de vista, o modo gradual e circular como nos é dado o acesso à “verdade” dos acontecimentos, a construção da intriga, com o seu quê de policial, que nos faz estar suspensos das páginas a vir, temendo (e desejando) que o enigma jamais seja desvendado.»

 (Post by Jota Marques)

CITAÇÃO


“Books are not about passing time. They're about other lives. Other worlds. Far from wanting time to pass, one just wishes one had more of it.”
(Alan Bennett)
(Post by Jota Marques)

sábado, 26 de novembro de 2022

"LOLITA" ~ VLADIMIR NABOKOV

 
Editora: Editorial Teorema Lda. (2009)
Tradução: Fernanda Pinto Rodrigues
ISBN: 978-846-128-498-6
Dimensões: 140 X 215 X 20 mm
Nº de páginas: 280

Editora: Relógio D'Água (Julho 2013)
Tradução: Margarida Vale de Gato
ISBN: 978-989-641-360-6
Dimensões: 150 X 232 X 17 mm
Nº de páginas: 360

 Autor norte-americano de origem aristocrática russa, nascido em São Petersburgo, a 22 de Abril de 1899 e falecido em Montreux, na Suiça, a 2 de Julho de 1977, Vladimir Nabokov foi, para além de escritor, entomologista, professor de literatura e criador de problemas de xadrez. O pai era professor na Escola Imperial de Jurisprudência e editava uma revista de oposição liberal. Nos anos de formação, Vladimir beneficiou de uma cultura cosmopolita. As perceptoras francesas e inglesas sucediam-se e aprendeu o inglês antes do russo. A sua vida amorosa foi precoce e variada: aos 5 anos, durante uma estadia em Roma e Nápoles, apaixonou-se por uma jovem italiana. Aos 7 anos, Vladimir inicia-se no estudo dos lepidópteros, actividade que não mais abandonaria e fez o seu nome constar em enciclopédias: «Se o meu primeiro olhar era para o Sol, o meu primeiro pensamento era para as borboletas que ele fazia surgir.» Quando aos 10 anos passeava com o pai em Moscovo, encontrou Tolstói. Começou nessa época a ler na sua biblioteca familiar Jules Verne, Conan Doyle, Kipling, Joseph Conrad, Oscar Wilde, Pushkin e o próprio Tolstói. Aos 16 anos, em plena Guerra Mundial, Vladimir conhece Valentina, o seu primeiro grande amor. Em 1916 publica um poema na revista russa Vestnik Evropy. A revolução democrática de Fevereiro de 1917 faz com que o pai seja nomeado ministro sem pasta no governo de Kerensky. Vladimir encontra-se então na Finlândia. Mas depois da revolução bolchevique a família é enviada para a Crimeia, conhecendo em breve o exílio que marcará toda a obra de Nabokov, mais pela nostalgia dos cenários perdidos da infância do que pela súbita perda da sua fortuna. Os Nabokov começam por partir para Atenas e depois para Londres. É então que Vladimir frequenta o Trinity College, em Cambridge, onde segue cursos de Zoologia, Línguas Modernas e Medievais, começando também a escrever poemas em russo.

Em 1920, depois de um período em França, a família fixa-se em Berlim, onde o pai de Nabokov é assassinado por dois russos de extrema-direita. Em 1925 casa-se com Véra Slonim e começa a escrever o seu primeiro romance, "Maschenka", a que se segue "Glória". No início da II Guerra Mundial, preocupado com as perseguições que a mulher, de origem judaica, poderia sofrer, Nabokov parte para os Estados Unidos da América, adquirindo a nacionalidade americana em 1945. Começa a escrever em inglês, mantendo, nas obras deste período, o fundo fantástico, a visão irónica da vida quotidiana e a mestria formal que já havia demonstrado, almejando levar a cabo um retrato da sociedade norte-americana através das suas convenções culturais e posturas perante o sexo. São dignas de nota as narrativas: "Invitation to a Beheading", "The Real Life of Sebastian Knight", "Lolita", um grande êxito editorial transposto para o cinema por Stanley Kubrick e cujo argumento se baseia nos amores de um homem adulto por uma adolescente ou "Speak Memory". Nabokov adaptou-se o melhor possível aos EUA, tendo chegado a declarar que se sentia «tão americano como o mês de Abril no Arizona.» É com "Lolita", quando já tinha 56 anos, que a sua notoriedade é finalmente reconhecida, devido ao escândalo que o romance despoleta nos EUA e também na Europa. O livro havia sido salvo num dia de 1950 pela mulher Véra, quando Nabokov pretendeu queimar os primeiros capítulos, incapaz de resolver algumas dificuldades técnicas. Conforme refere Ana Filipa Rodrigues, «Nabokov conseguiu criar uma obra em que na mesma frase nos consegue repudiar e maravilhar com o que estamos a ler. Com uma escrita magnífica, como só os grandes escritores conseguem alcançar conhecemos Humbert e a sua ninfeta Lolita. Com um o tema tão sensível, Nabokov criou um clássico intemporal de desejos ocultos e proibidos, de personalidades fortes (como a da Lolita) e fracas (como a de Humbert) de vidas disfarçadas de normalidade, um livro que queremos desistir ao fim do primeiro capitulo, mas que nos agarra até ao ultimo, um livro que se torna uma luta interior para o leitor. "Lo-Li-Ta. Era Lo, só Lo, pela manhã, com seu metro e quarenta e sete e uma só peúga. Era Lola de calças, Dolly na escola. Era Dolores no tracejado onde assinava o nome. Mas nos meus braços era sempre Lolita.» Em 1961, já famoso, Nabokov regressa com a família à Europa, tendo-se instalado na Suiça, em Montreux, no Palace Hotel, numa série de quartos que comunicavam entre si, e onde tudo tinha um carácter provisório. Não mais abandonaria a cidade, vindo a falecer em Junho de 1977.

***

Na introdução ao livro, por John Ray Junior, doutor em Filosofia, refere-se: «Considerado simplesmente como romance, "Lolita" trata de situações e emoções que permaneceriam irritantemente vagas para o leitor se a sua expressão se tivesse estiolado pelo recurso a evasivas banais. É verdade que não se encontra em todo o livro um único termo obsceno, de tal sorte que o robusto filisteu, condicionado pelas modernas convenções a aceitar sem repugnância a prodigalidade de palavras porcas de um romance banal, ficará absolutamente escandalizado com a sua ausência aqui. Se, no entanto, para tranquilidade da consciência desse paradoxal moralista, se tentasse diluir ou omitir cenas a que um certo tipo de mentalidade poderia chamar "afrodisíacas", o melhor seria desistir por completo da publicação de "Lolita", pois as cenas que absurdamente se poderiam acoimar de prenhes de conteúdo sensual próprio são o mais estritamente funcionais possível no desenrolar de uma história trágica que se encaminha, inabalável e resolutamente, para nada menos do que uma apoteose moral. Os cínicos poderão dizer que a pornografia comercial afirma exactamente o mesmo e os entendidos poderão ripostar que a apaixonada confissão que Humbert Humbert descreve com tanto desespero, e que, se o nosso dementado diarista tivesse, no fatal Verão de 1947, consultado um psicoterapeuta competente, não haveria tragédia nenhuma - mas, nesse caso, também não haveria este livro.»



O FILME DE STANLEY KUBRICK (1962)


Lolita Haze: «I'm really sorry that I cheated so much.
                   But I guess that's just the way things are»

Apresentado pela primeira vez no Festival de Veneza de 1962 (onde concorreu ao Leão de Ouro), “Lolita” começou por não atraír o grande público, devido sobretudo ao inevitável paralelo entre o filme e o livro, comparação sem grande significado que no entanto perdura até aos nossos dias. Tendo em conta o global desinteresse fílmico de Kubrick pelos problemas da sentimentalidade amorosa, é bastante evidente e significativo o motivo da escolha: o romance de Nabokov desenvolve com ofuscante clareza aquele que é o tema dos temas kubrickiano, aquele a partir do qual se produzem todos os seus filmes: a obsessão. O facto de Kubrick apostar muito mais no lado subjectivo dessa obsessão, por oposição ao seu objecto físico, ou seja, ao corpo adolescente de Lolita (Sue Lyon) evidencia já o afastamento do conteúdo do romance, enquadrando-se todo o filme numa atmosfera onírica, onde a subtileza é a nota dominante das relações entre Humbert (James Mason, num dos grandes papeis da sua carreira) e as pessoas à sua volta. A relação “normal” entre homem e mulher sempre primou pela ausência no cinema de Kubrick, e esta “Lolita” é um bom exemplo disso. A paixão de Humbert situa-se num plano acima do erotismo e da permissividade, indiferente à idade da “ninfa”, e enquadrando-se num desvio à norma social institucionalizada. É uma espécie de agonia amorosa (que faz lembrar o “Amor-Louco” de Breton), uma exaltação profundamente maior do que aquela que a imaginação pode criar.

Magistralmente interpretada por Shelley Winters, Charlotte Haze, a mãe de Lolita, é o polo atractivo de toda a aversão de Humbert pelos estereotipos presentes no modo de vida americano dos anos 50. Mas enquanto Nabokov não vai além de um certo sarcasmo no modo como descreve essa sociedade, Kubrick apodera-se da figura de Charlotte (e de todos os preconceitos pequeno-burgueses que ela representa) para dar mais ênfase ao tormento de Humbert. Será nesse ambiente de desejos recalcados que o professor se deixará subjugar pela jovem teenager, iniciando o percurso sem retorno que o conduzirá à solidão e à mais negra decrepitude moral. Já as diversas máscaras de Clare Quilty (espantoso Peter Sellers) estão inteiramente na órbita do imaginário repressivo-depressivo de Humbert. As múltiplas aparições de Sellers-Quilty são física e verbalmente grotescas, espelhando toda a culpabilidade de Humbert, e conferindo o peso da realidade e uma dimensão concreta ao delírio da perseguição de que Humbert é vítima. Digamos, para simplificar, que Quilty representa o lado transgressor de Humbert, a materialização dos seus mais secretos desejos.


Uma das razões de Kubrick ter escolhido Sue Lyon (de entre cerca de 800 candidatas) teve a ver com o tamanho dos seios da jovem actriz, para evitar que a personagem denotasse a pouca idade com que Nabokov a descrevera no livro (12 anos). Além disso, Kubrick teve o cuidado de acrescentar dois anos à sua Lolita (Sue Lyon também tinha a mesma idade - 14 anos -  na altura da rodagem), de modo a aproximá-la mais da adolescência e evitar ao máximo a conotação do filme com o universo pedófilo (estigma do qual no entanto não se viria a livrar). O filme de Kubrick é considerado ainda hoje como um objecto estranho na sua filmografia. Mas só poderá estar convicto dessa opinião quem passar por “Lolita” apenas um olhar apressado e superficial. Na verdade, todos os temas caros ao realizador estão já contidos nesta adaptação da obra de Nabokov. O argumento, da autoria do próprio escritor, mas substancialmente alterado por Kubrick (sobretudo no carácter de Peter Sellers, Clare Quilty, que no livro não tem a importância central com que aparece no filme, até a própria Lolita passou de morena a loura) viria a ser nomeado para o Oscar da Academia, mas seriam os Globos de Ouro a perspectivarem o essencial do filme, ao fazerem recaír quatro nomeações sobre o realizador e os três actores (Mason, Winters e Sellers) que foram os principais responsáveis pela envergadura e longevidade da obra.

(Post by Jota Marques)

O SOSSEGO DOS LIVROS

(Post by Jota Marques)

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

"O ALTAR DE VÉNUS" (ANÓNIMO)

 

Título original: The Altar of Venus
Editora: Círculo de Leitores (Março de 1990)
Tradução: Maria Emília Ferros Moura
Capa: Rochinha Diogo
ISBN: 972-420-015-9
Capa dura
Comprado por 5€ em Novembro de 2022 (Leilão no FB)

Apesar desta história constituir a autobiografia erótica de um dos nossos mais famosos contemporâneos, cujo nome é apenas do conhecimento do secretário desta sociedade, não lhe falta acção e impacte. Situa-se muito acima da vulgar literatura erótica. Representa a pesquisa franca e honesta que um homem faz da sua mente em busca da resposta àquela pergunta que o mundo coloca em todas as épocas, o enigma do Universo: Porquê e como é o sexo e as profundezas a que mergulha? Nada há que se lhe compare em escritos anteriores no âmbito da psicossexualidade.

Deixamos ainda uma palavra sobre a maneira como este manuscrito veio parar-nos à mão. Sem erguermos demasiado o véu, podemos informar que, algures, nos últimos dois anos, faleceu um dos elementos com funções dirigentes na nossa sociedade. Era um desportista, um membro da Câmara dos Lordes, um dos pilares da nossa Igreja e jamais tido por libertino. As suas memórias revelam-no agora igualmente como um príncipe na nobreza da Pornografia. Nos últimos anos de vida recolheu, ao que parece, a satisfação sexual através das recordações. Jamais lhe ocorreu, indubitavelmente, que algum dia seriam lidas por outros olhos. (...) O leitor irá achá-lo de um rigor científico até ao mais ínfimo pormenor. Caracteriza-se por um extraordinário brilhantismo no retrato da vida amorosa de alguém que considerava a mulher como fulcro da vida. Tanto quanto sabemos, não existe qualquer outra obra que reflicta tão fielmente os vários impulsos eróticos que assaltam a Humanidade. (da Introdução)

(...) Continuava afogueado pela emoção, mas começava a recompor-me e, enquanto me desembaraçava da roupa, os meus olhos devoravam o delicioso espectáculo da sua nudez. Se era bonita vestida, era cem vezes mais bonita despida. Como me surgia diferente daquelas rapariguinhas de peito chato e traseiros pequenos, cujos corpos sómente diferiam do dos rapazes num pequeno detalhe! Aquelas ancas redondas e cheias, a cintura vincada, as pernas e coxas de uma maturidade simétrica, os seios tão grandes e alvos com os lascivos mamilos róseos! Enquanto a contemplava, aqueles biquinhos semelhantes a morangos pareciam mudar de forma. Ressaltavam endurecidos de uma forma sedutora e assumindo uma coloração mais escura. E o encanto dos encantos residia naquela profusão de caracóis negros de cabelo que formavam um triângulo tão perfeito e real na base do estômago como se tivesse sido desenhado com régua e caneta. Marcadamente visível sob o bico invertido do triângulo, via-se a incisão bem delineada do sexo, ao curvar-se graciosamente para o interior entre umas coxas brancas e redondas. Ao observar a minha excitação e o espanto que me fazia arregalar os olhos, ela soltou uma gargalhada e enlaçou-me, ao mesmo tempo que começava a beijar-me. (...)

(Post by Jota Marques)

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA

 
Editora: Porto Editora (Novembro 2021)
1ª edição: Editorial Caminho, 1995
Capa: Manuel Estrada
ISBN: 978-972-003-990-3
Dimensões: 142 X 210 X 21 mm
Nº de páginas: 346
Comprado por 15€ em 22/11/2022 na FNAC-Cascais Shopping

«"Ensaio sobre a Cegueira" é uma espécie de imago mundi, uma imagem do mundo em que vivemos: um mundo de intolerância, de exploração, de crueldade, de indiferença, de cinismo. Mas dirão: "Também há gente." Pois há, mas o mundo não vai nessa direcção. Há pessoas humanizáveis, pessoas que se vão humanizando por um esforço de supressão de egoísmos. Mas o mundo no seu conjunto não vai nessa direcção.» (José Saramago)

No centenário do nascimento de José Saramago (16/11/1922 -18/6/2010) recomenda-se esta edição comemorativa de "Ensaio Sobre a Cegueira", um dos seus romances mais interessantes e cinemáticos, por isso mesmo já transposto para cinema em 2008 pelo realizador paulista Fernando Meirelles. Com o título original "Blindness" e com argumento de Don McKeller, o filme é uma co-produção alargada a vários países, tendo sido rodado no Brasil, Canadá e Uruguai. Uma das condições que Saramago impôs para a concessão dos direitos autorais, foi a de que não se fizesse menção a nenhum país em especial. Com música de Luiz Bonfá, "Blindness" tem em Julianne Moore, Mark Ruffalo e Gael García Bernal os intérpretes dos personagens principais, os quais, tal como acontece no livro, não têm nome. Um homem fica cego, inexplicavelmente, quando se encontra no seu carro no meio do trânsito. A cegueira alastra como «um rastilho de pólvora». Uma cegueira colectiva, um mundo com as contradições da espécie humana. Não se situa em nenhum tempo específico. É um tempo que pode ser ontem, hoje ou amanhã. As ideias a virem ao de cima, sempre na escrita de Saramago. A alegoria. O poder da palavra a abrir os olhos, face ao risco de uma situação terminal generalizada.

Saramago foi convidado a assistir à estreia do filme na abertura do Festival de Cannes de 2008, mas os seus médicos não o autorizaram a viajar. Assim sendo, foi o próprio realizador que se deslocou a Lisboa para lhe apresentar o filme em primeira mão. Saramago gostou imenso do que viu, dizendo-se tão feliz como quando acabou de escrever o livro. Meirelles não resistiu a beijar e abraçar o escritor no fim da projecção.

No entanto, numa conferência de imprensa realizada durante um banquete em Setembro de 2008, Marc Maurer, Presidente da Federação Americana dos Cegos, afirmou que a sua organização condenava quer o filme quer o livro onde o mesmo tinha sido baseado, pois considerava que a cegueira era usada como metáfora de tudo quanto era mau no pensamento humano e que os intervenientes eram apresentados como incompetentes, viciados e depravados. No seguimento de tais declarações, foram organizados vários protestos contra o filme pela organização.



MINI-BIOGRAFIA:

 Autor de mais de 40 títulos, José Saramago nasceu em 1922, na aldeia de Azinhaga. As noites passadas na biblioteca pública do Palácio Galveias, em Lisboa, foram fundamentais para a sua formação. «E foi aí, sem ajudas nem conselhos, apenas guiado pela curiosidade e pela vontade de aprender, que o meu gosto pela leitura se desenvolveu e apurou.» Em 1947 publicou o seu primeiro livro que intitulou "A Viúva", mas que, por razões editoriais, viria a sair com o título de "Terra do Pecado". Seis anos depois, em 1953, terminaria o romance "Claraboia", publicado apenas após a sua morte. No final dos anos 50 tornou-se responsável pela produção na Editorial Estúdios Cor, função que conjugaria com a de tradutor, a partir de 1955, e de crítico literário. Regressa à escrita em 1966 com "Os Poemas Possíveis"Em 1971 assumiu funções de editorialista no Diário de Lisboa e em Abril de 1975 é nomeado diretor-adjunto do Diário de Notícias. No princípio de 1976 instala-se no Lavre para documentar o seu projecto de escrever sobre os camponeses sem terra. Assim nasceu o romance "Levantado do Chão" e o modo de narrar que caracteriza a sua ficção novelesca. Até 2010, ano da sua morte, a 18 de junho, em Lanzarote, José Saramago construíu uma obra incontornável na literatura portuguesa e universal, com títulos que vão de "Memorial do Convento" a "Caim", passando por "O Ano da Morte de Ricardo Reis", "O Evangelho segundo Jesus Cristo", "Ensaio sobre a Cegueira", "Todos os Nomes" ou "A Viagem do Elefante", obras traduzidas em todo o mundo. No ano de 2007 foi criada em Lisboa uma Fundação com o seu nome, que trabalha pela difusão da literatura, pela defesa dos direitos humanos e do meio ambiente, tomando como documento orientador a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Desde 2012 a Fundação José Saramago tem a sua sede na Casa dos Bicos, em Lisboa. José Saramago recebeu o Prémio Camões em 1995 e o Prémio Nobel de Literatura em 1998. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou postumamente, a 16 de novembro de 2021, José Saramago com o grande-colar da Ordem de Camões, pelos "serviços únicos prestados à cultura e à língua portuguesas", no arranque das comemorações do centenário do nascimento do escritor.

(Post by Jota Marques)

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

OS CONTOS DE EDGAR ALLAN POE

 
Editora: Temas e Debates / Círculo de Leitores (Novembro 2014)
Tradução: J. Teixeira de Aguilar
Capa. Ana Monteiro
ISBN: 978-989-644-319-1
Dimensões: 174 X 255 X 51 mm
Capa dura
Nº de páginas: 952
Comprado por 19,52€ na Bertrand-on-line, Novembro 2022

Esta edição dos contos de Edgar Allan Poe é uma verdadeira obra de arte! Quem nunca sonhou em ter uma colectânea completa dos contos de Edgar Allan Poe num só livro com uma encadernação fantástica? Este livro traz-nos os contos mais arrepiantes e de suster a respiração que o autor escreveu. Os clássicos todos, os menos conhecidos, os mais emblemáticos, os mais traduzidos, os completamente desconhecidos, estão lá todos... ainda para mais, numa edição cuidada e muito bonita.

Edgar Allan Poe é um dos autores mais publicados do mundo, conhecido pela genialidade expressa também nos seus famosos contos de terror e em algumas das histórias de detectives mais macabras jamais escritas, como "A Queda da Casa de Usher", "Os Crimes da Rua Morgue" ou "O Escaravelho de Ouro". Notável mestre do suspense, Poe também era poeta e, como demonstram os seus contos sobre hipnotismo e viagens no tempo, foi um pioneiro da ficção científica.

MINI-BIOGRAFIA:

Escritor norte-americano nascido a 9 de janeiro de 1809, em Boston, e falecido a 7 de outubro de 1849. Filho de dois atores de Baltimore, David Poe Junior e Elizabeth Arnold Poe, ficou órfão com apenas dois anos de idade e desde cedo aprendeu a sobreviver sozinho. Foi adoptado por uma família de comerciantes ricos de Richmond, de quem recebeu o apelido Allan. Entre 1815 e 1820, a família Allan viveu em Inglaterra e na Escócia, onde Poe recebeu uma educação tradicional, regressando depois a Richmond. Poe foi para a Universidade da Virgínia em 1826, onde estudou grego, latim, francês, espanhol e italiano, mas desistiu do curso onze meses depois por causa do seu vício do jogo e do álcool. Resolveu então ir para Boston, onde publicou em 1827 um fascículo de poemas da juventude de inspiração byroniana, "Tamerlane and Other Poems". Em 1829 publicou o seu primeiro volume de poemas, com o título "Al Aaraaf, Tamerlane and Minor Poems", onde se denota a influência de John Milton e Thomas Moore. Foi então para Nova Iorque, onde publicou outro volume, contendo alguns dos seus melhores poemas e onde se evidencia a influência de Keats, Shelley e Coleridge. Em 1835 estreou-se como diretor do jornal Southern Literary Messenger, em Richmond, onde se tornaria conhecido como crítico literário, mas veio a ser despedido do seu cargo alegadamente por causa do seu problema da bebida. O álcool viria aliás a ser o estigma que marcaria toda a sua vida até à morte. Casou-se nesse mesmo ano com a sua prima de apenas treze anos, Virgínia Clemm, e o casal resolveu então instalar-se em Nova Iorque, onde não chegou a permanecer muito tempo. Foi em Filadélfia que Poe alcançou fama através de vários volumes de poemas e histórias de mistério e de terror. Em 1838 escreveu "The Narrative of Arthur Gordon Pym", obra de prosa em que combinou factos reais com as suas fantasias mais insanes. Em 1839 tornou-se codiretor do Burton's Gentleman's Magazine em Filadélfia, e nesse mesmo ano escreveu várias obras que o tornaram famoso pelo seu estilo de literatura ligado ao macabro e ao sobrenatural. São elas "William Wilson" e "The Fall of the House of Usher". A primeira história policial surgiu apenas em 1841, na revista Graham's Lady's and Gentleman's Magazine, sob o nome "The Murders of the Rue Morgue", e em 1843 Poe recebeu o seu primeiro prémio literário com a obra "The Gold Bug". Em 1844 regressou a Nova Iorque e tornou-se subdirector do New York Mirror. Na edição de 29 de janeiro de 1845 deste jornal surgiu o poema "The Raven", com o qual Poe atingiu o auge da sua fama nacional. Dois anos mais tarde morre a sua mulher Virgínia, mas Poe volta a casar, com Elmira Royster, em 1849. Porém, antes disso, Poe publica "Eureka", uma obra que deu azo a muita contestação por parte de alguns críticos da época e que é considerada uma dissertação transcendental sobre o universo, muito louvada por uns e detestada por outros. É de regresso à terra natal do seu pai que Poe começa a apresentar indícios de que o problema do alcoolismo já era de certo modo irreversível. De facto, ele esteve na origem da morte do escritor. A obra de Poe é o espelho da sua vida conturbada e dos seus hábitos e atitudes antissociais, que o levavam a ter uma escrita que ia para além dos padrões convencionais. Se por um lado foi vítima de certas circunstâncias que estavam para além do seu controle, como foi o facto de ter ficado órfão aos dois anos de idade, por outro fez-se escravo de um problema - o álcool - que agravaria a sua personalidade já de si inconstante, imprevisível e incontrolável.

(Post by Jota Marques)