Tradução: Pires Carneiro
MINI-BIOGRAFIA:
Dino Segrè, também
conhecido pelo pseudónimo Pitigrilli, nasceu em Turim, a 9 de Maio de 1893 e
morreu na mesma cidade, a 8 de Maio de 1975, um dia antes de completar os 82
anos. Pertenceu ao grupo de escritores que mais me influenciaram durante a
minha adolescência, através das ideias que fui beber directamente aos seus
escritos. Essas ideias moldaram decisivamente o meu modo de pensar, sentir e
interagir com o mundo à minha volta. Outros nomes que ainda hoje considero como
tendo sido os percursores da minha formação intelectual: Friedrich Nietsche,
Bertrand Russell, Albert Camus ou Jean-Paul Sartre, entre alguns mais.
Jornalista de profissão, Pitigrilli
trabalhou nos principais jornais da sua época, tecendo comentários ácidos e
humorísticos sobre a sociedade e os costumes. Nos livros editados durante o período
entre as duas guerras mundiais, Pitigrilli destacou-se por uma série de
romances e contos, onde abundavam, a par da intriga erótica, cáusticos
aforismos, trocadilhos e paradoxos, que tiveram o mérito de seduzir uma vasta
audiência, já saturada das regras e dos costumes burgueses e ansiosa de
experimentar novas ideias e liberdades. Muito influenciado pelo existencialismo
do fim da Segunda Guerra Mundial, dedicou-se essencialmente a apontar o dedo
aos falsos moralismos existentes durante a sua época. Afirmava que adoptou o
pseudónimo pelo qual era conhecido, pela simples razão de que gostava de
"colocar os pingos nos is". Fundou e dirigiu diversas revistas, que
tiveram as honras das melhores canetas italianas da época.
Sob o poder fascista, e
contrariamente ao que propagava nos seus escritos, revelou-se infelizmente um
apoiante das ideias de Mussolini, tendo sido colaborador da polícia política. Veio,
inclusivé, a denunciar muitos oponentes do regime, incluindo Carlo Levi. No pós-guerra,
quando a paz foi restabelecida, as suas actividades ao serviço da polícia
secreta foram trazidas a público, Pitigrilli teve de se refugiar na Argentina
com a família, a partir de 1948. Converteu-se ao catolicismo e, após a queda de Juan Péron em 1955, Pitigrilli regressou à Europa, tendo-se fixado em Paris, onde
conheceu Sartre, Simone de Beauvoir e Jean Cocteau. Em 1961 é o retorno à terra
natal, onde ainda escreveu vários livros e artigos para periódicos católicos.
Algumas de suas obras mais
conhecidas: "Mamíferos de Luxo" (1920), "O Cinto de Castidade"
(1921), "Cocaína" (1921), "Ultraje ao Pudor" (1922), "A
Virgem de 18 Quilates" (1924), "Os Vegetarianos do Amor" (1931),
"A Loura Dolicocéfala" (1936), "A Maravilhosa Aventura"
(1948), "O Farmacêutico a Cavalo" (1948), "O Deslize do
Moralista" (1948), ou "Nossa Senhora de Miss Tif" (1974), o seu
último livro, uma história bastante prolixa, recheada de sermões, mas onde,
aqui e ali, emergem algumas proposições brilhantes e analogias que fazem
lembrar o antigo Pitigrilli. A sua obra foi traduzida em 17 línguas.
"O COLAR DE AFRODITE":
- O AMOR é obsceno quando feito de cartas para a posta-restante, de cumplicidade de porteiros, de cópulas apressadas em hotéis à hora, de movimentos embaraçados em carros alugados com cortinas corridas, de posições incómodas com complicações de vestidos que o medo de ser surpreendidos não permite tirar. Em suma, o amor é sórdido e imoral sòmente quando atormentado pelas dificuldades, pelos subterfúgios, pelas hipocrisias que a moral hipócrita impõe.
- A ÚNICA coisa triste no amor é o tornar a vestir-se.
- A CÓPULA não é obscena. O que a torna obscena são, às vezes, as palavras.
- NÃO SEI por que razão os outros homens e as outras mulheres amam de noite, nos intervalos do tempo em que não há outra coisa que fazer. Fixam-se horas para coisas muito mais vulgares, como comer, e idiotas, como trabalhar. E ao amor, que é a coisa mais bela da vida, porque não destinam as horas mais belas do dia, como o meio-dia ou o crepúsculo? Detesto o amor nocturno. É coisa para empregados, para operários, para maridos. Eu só aprecio o amor praticado à luz do dia, como um belo rito pagão. À noite, durmo. O amor e o sono são os nossos dois actos mais sublimes; por que há-de a práctica de um redundar em prejuízo do outro?
- AMANTES: A mais bela palavra que existe no mundo.
- AFINAL, que se requer para conquistar uma mulher? Nada. Basta deixar-se conquistar. O homem nunca tem o direito de escolha. Tem a ilusão de escolher, mas, ao contrário, é sempre o escolhido.
- A FIDELIDADE, em qualquer caso, não é mais que uma série de adultérios abortados, de traições malogradas.
- O PIOR corrosivo do amor é a sinceridade. «Mentir sempre», eis a divisa de um amante que queira ser amado. E não o confessar jamais.
- A NECESSIDADE de amor é tanta neste mundo, que certas mulheres amam até o próprio marido.
- QUANDO uma mulher nos diz que o seu marido não sabe fazê-la feliz, geralmente está a caluniá-lo. O prazer é um fenómeno físico produzido por um roçar contínuo, por um atrito, por uma pressão em que nada existe de espiritual ou de sentimental. Nessa pequena zona do seu corpo, que tem cinco centímetros de raio e doze centímetros de profundidade, a mulher, sem fazer diferença, é feliz se está nos braços de um amante ou de um marido, de um polícia, de um fiscal do imposto de consumo ou de um poeta.
- NÃO HÁ coisa alguma que possamos inventar para guardar as mulheres. Se as fizéssemos vigiar por um eunuco, acabariam seduzindo até o eunuco.
- UMA VIRGEM? Possuir uma mulher pela primeira vez? Mas, são tão insípidas! Entregam-se com o mesmo entusiasmo com que abrem a boca no dentista.
- É PRUDENTE fazer-se esperar uma mulher. Na espera irritam-se e pensam de nós os maiores males possíveis, evocam todos os nossos defeitos, atribuindo-nos até os que não temos. Com as mulheres é de bom aviso ter muitos defeitos, porque elas com certeza não nos amam pelas nossas virtudes.
(a continuar...)
(Post by Jota Marques)
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