quinta-feira, 3 de novembro de 2022

LUGARES IMAGINÁRIOS

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O mundo é um imenso livro do qual
aqueles que nunca saem de casa
leem apenas uma página.

(SANTO) AGOSTINHO DE HIPONA

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Dicionário
de
Lugares
Imaginários
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Alberto Manguel * Gianni Guadalupi
novembro 2013 (c) TINTA DA CHINA

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1200 LUGARES, DE ATLÂNTIDA A XANADU, 
PASSANDO PELO CASTELO, DE KAFKA, 
E PELO PAÍS DAS MARAVILHAS
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TRADUÇÃO: Carlos Vaz Marques
e Ana Falcão Bastos
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«É um velho costume marítimo que uma nova embarcação seja lançada ao mar com um pedido de bênção para si e para todos os seus tripulantes.

Agora que o nosso Dicionário de Lugares Imaginários passará a navegar as desconhecidas águas de Portugal, também pedimos que o abençoem as almas generosas de intrépidos viajantes imaginários como Camões, Pessoa, Sophia de Mello Breyner, António Lobo Antunes.

Eles entenderão, melhor do que ninguém, a honra que representa para uma obra como a nossa, de viagens a lugares sonhados, partilhar a estante com as crónicas dessas outras   viagens a lugares que chamamos, sabe-se lá porquê, verdadeiros.»        

(Alberto Manguel)     
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LIVRO DE RECEITAS DOS
LUGARES
IMAGINÁRIOS
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Alberto Manguel
novembro 2021 (c) TINTA DA CHINA

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O PRIMEIRO LIVRO DE RECEITAS (LITERÁRIAS) DE ALBERTO MANGUEL
COM ILUSTRAÇÕES ORIGINAIS FEITAS PELO AUTOR
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TRADUÇÃO: Rita Almeida Simões

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 Este livro tem sopa de amantesdemónios, omeleta de dragão, dedos de feiticeiro, dinobúrgueres e até   um cocktail de sangue fresco todos (muito) comestíveis. E, além de encher a barriga, é um convite para que se sente à mesa com as suas personagens preferidas, nos mais marcantes lugares imaginários da literatura.

Tal como colecciona leituras, Alberto Manguel experimenta e inventa receitas desde a adolescência — aqui, junta as duas paixões, na certeza de que desde «um elaborado banquete na Atlântida ao mais simples jantar na ilha de Robinson Crusoe, toda a comida (diznos a literatura) é, na sua essência, uma prova da nossa humanidade comum». 

ILHA DE CRUSOE
(Daniel Defoe, The Life and Strange Adventures of Robinson Crusoe, Mariner)
(As Aventuras de Robinson Crusoe) (1719)

Durante os 28 anos que passou na ilha, Robinson Crusoe conseguiu cultivar várias àrvores de fruto, cereais e legumes, como trigo, arroz, cevada, cana-de-açúcar, uvas, laranjas e melões. Também encontrou na ilha várias especiarias e ervas que utilizou para se alimentar. Obtinha o sal da água do mar. Acompanhava alguns dos seus guisados de tartaruga e peixe com um apetitoso molho de melão.

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MOLHO DE MELÃO

INGREDIENTES
  » 1 melão maduro, sem casca nem 
pevides, cortado aos bocados
» 1 chávena de amendoins laminados
» 1 malagueta cortada
» 1 chávena de folhas de hortelã fresca picadas
» 1 colher de chá de rosmaninho picado 
» 2 colheres de chá de sal

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1. Combine todos os ingredientes num prato 
e deixe os sabores misturarem-se algumas horas.

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AIAIA
(Homero, Odisseia, sec. IX a.C.)


A Ilha de Aiaia tem só um habitante, Circe, que, além de feiticeira, é uma excelente cozinheira. Entre os seus melhores pratos está a carne assada à Circe, que provém das varas de porcos que perambulam pela ilha.


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CARNE ASSADA À CIRCE

INGREDIENTES
  » 1 lombo de porco (preferencialmente de 
Aiaia), sem gordura
» 1/4 de chávena de molho de soja
» 1/4 de chávena de vinho da Madeira malagueta cortada
» 2 colheres de sopa de mostarda de Dijon
» 1 colher de sopa de açúcar mascavado 
» sal e pimenta a gosto
» coentros picados para servir
» 1 lata de feijão branco cozido, para acompanhar

*****
1. Misture todos os ingredientes e cubra o porco com
a marinada. Reserve de um dia para o outro.
2. Aqueça o forno a 200 ºC e asse a carne de porco por 
uma hora, virando a cada 20 minutos.
3. Uma vez assada, retire-a e deixe 
repousar durante 10 minutos.
4. Sirva com os coentros picados e o feijão branco.

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ALBERTO MANGUEL

Quando, aos 20 anos, saí de casa e comecei uma existência basicamente nómada, a minha avó deu-me um frasco pequeno com um pacotinho de sal, e um pedaço de pão. Segundo ela havia um velho conto judeu acerca de um viajante a quem um anjo fez uma dádiva semelhante, para que ele nunca tivesse fome, e, para que também a mim nunca faltasse comida, ela queria que eu transportasse o frasquinho para onde quer que a sorte me levasse. Após de inúmeras casas em mais países do que me quero lembrar, o frasquinho repousa agora numa prateleira alta da que, espero eu, será a minha última cozinha. E está lá para me recordar de que a literatura não é apenas alimento da alma. (do Prefácio)
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(Post by Zé Marrana)

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