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sábado, 11 de fevereiro de 2023

PCF ~ EU SOU DEUS

RESPIRA: ENQUANTO PODES

Quero que agora, já, imediatamente, cagues na infelicidade, na crise, nos mercados financeiros, nos políticos, nos tachos, nas instituições públicas, no presidente da república e nas más pessoas. Quero que cagues até no dinheiro que não tens, na hipoteca que tens de pagar, no salário que nunca chega ao fim do mês. Quero que cagues nisso tudo. Vá: puxa. Vá: caga. E liberta. Vá: caga. E olha, e repara, e sê. Nada vale mais a pena do que ser, nada vale mais a pena do que respirar. Respirar por respirar. Respira.

Respira a criança que ri. Olha-a nos olhos, sente-lhe o sonho, a esperança, o futuro. Sente, nela, que vale a pena continuar, que vale a pena tudo o resto para que algo assim te caia nas mãos – para que algo assim te caia nos olhos. Respira a chuva que cai, o sol que aquece, o vento que empurra. Respira o cheiro da terra húmida, a imponência da árvore erguida, a magia das asas de um pássaro. Respira – para saberes que vale a pena continuar.

Respira o sabor de um beijo, o toque de um afago, o som de um arfar. Respira a mão de fogo de quem te ama, o suor em êxtase de quem te chama. E o abraço que não passa, e as palavras que te embraçam, e os olhares que te apertam. Respira – para saberes que vale a pena continuar.

Respira ainda quem tens contigo, quem te quer, quem te cuida, quem te acompanha. Respira também quem não tens contigo, quem gostavas de ter contigo e partiu sem nunca deixar de ficar, quem queres e não te quer mas que por existir te faz existir. Respira a tristeza como respires a felicidade, a saudade como respiras a presença. Respira o que faz parte da tua vida – porque é o que faz parte da tua vida que te faz sentir vivo. Respira – para saberes que vale a pena continuar.

Podia dizer-te que tudo vai ficar melhor, que tudo vai correr bem com esta bosta deste país, com esta merda deste mundo, com este nojo desta sociedade, com este excremento chamado economia. Podia dizer-te que sempre que o Homem esteve em crise ficou melhor Homem, que sempre que o Homem bateu no fundo chegou mais alto. Podia ainda dizer-te que é sob pressão que mais se fala ao coração, que mais se sente a emoção. Podia fazer-te acreditar que acredito que é possível dar a volta, que é possível mudar a sorte – porque a sorte, por sorte todos o sabemos, não é mais do que a competência de quem gere o destino. Podia fazer mil e uma coisas, dar-te mil e um conselhos, mil e uma palmadinhas nas costas. Mas não: prefiro dizer-te, como te disse, para respirares. Para sentires o que tens e o que não tens como provas indubitáveis de que tens tudo aquilo de que precisas. Porque, no fundo, tudo aquilo de que precisas é um corpo para respirar e um mundo para viver. Pode ser uma merda, pode não valer a ponta de um corno. Mas é o mundo: o teu mundo. Aproveita-o. E respira. Até que te falte a respiração.

(Pedro Chagas Freitas in “Eu Sou Deus”, Marcador, Janeiro 2016)

(Post by Jota Marques)

terça-feira, 31 de janeiro de 2023

EU SOU DEUS

Editora: Marcador (Janeiro 2016)
Capa: Ideias Com Peso
Dimensões: 153 X 233 x 19 mm
Nº de páginas: 272
ISBN: 978-989-754-204-6

«Quando se ama, naquele exacto segundo em que se ama, tem de se acreditar que é para sempre. Mais: tem de se ter a certeza de que é para sempre. Amar, mesmo que por segundos, mesmo que por instantes, é para sempre. E é isso, essa sensação de segundos ou de minutos ou de dias ou de horas ou de anos ou meses, que é para sempre. Ama. Ama por inteiro. Ama sem nada pelo meio. Ama, ama, ama, ama. Ama. Porque é só por aquilo que te faz perder a respiração que vale a pena respirar. A verdadeira fusão não é a de duas pessoas que se amam - é a de duas pessoas que se exploram. Eu quero explorar-te toda. Eu exijo explorar-te toda. E sem sequer direito a indemnização ou discussão. Explorar-te toda. E exijo - Deus te livre de não o fazeres - ser explorado todo. Não deixes nada por tocar, nada por sentir, nada por escravizar. Não deixes nada por viver: nada por me viver. Faz de mim o teu tudo. É isso que te ordeno. Faz de mim o teu tudo. E é tudo.»



Pedro Chagas Freitas nasceu em Guimarães em 1979. É escritor, jornalista, formador na área da escrita criativa e orador. Com quase 40 livros publicados, é um dos autores mais lidos em Portugal e em países como a Itália, o Brasil ou o México, com vendas superiores a um milhão de cópias em todo o mundo. Vencedor do Prémio Bolsa Jovens Criadores do Centro Nacional de Cultura em 2006, é o fundador do Campeonato Nacional de Escrita Criativa. Além da escrita, é palestrante e é o autor da stand-up tragedy “Sim, eu Empurro Portas que Dizem Puxe”, com a qual tem percorrido o país. Criou dois jogos de escrita criativa — “A Fábrica da Escrita” e o “Supergénio”. Publicou, entre muitos outros, livros como “Prometo Falhar”, um dos seus romances mais conhecidos e publicado em vários países, “O Amor não Cresce nas Árvores”, “M#rda! Amo-te”, “É Urgente Amar” ou “Foste a Maneira Mais Bonita de Errar”.

(Post by Jota Marques)