quinta-feira, 24 de novembro de 2022

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA

 
Editora: Porto Editora (Novembro 2021)
1ª edição: Editorial Caminho, 1995
Capa: Manuel Estrada
ISBN: 978-972-003-990-3
Dimensões: 142 X 210 X 21 mm
Nº de páginas: 346
Comprado por 15€ em 22/11/2022 na FNAC-Cascais Shopping

«"Ensaio sobre a Cegueira" é uma espécie de imago mundi, uma imagem do mundo em que vivemos: um mundo de intolerância, de exploração, de crueldade, de indiferença, de cinismo. Mas dirão: "Também há gente." Pois há, mas o mundo não vai nessa direcção. Há pessoas humanizáveis, pessoas que se vão humanizando por um esforço de supressão de egoísmos. Mas o mundo no seu conjunto não vai nessa direcção.» (José Saramago)

No centenário do nascimento de José Saramago (16/11/1922 -18/6/2010) recomenda-se esta edição comemorativa de "Ensaio Sobre a Cegueira", um dos seus romances mais interessantes e cinemáticos, por isso mesmo já transposto para cinema em 2008 pelo realizador paulista Fernando Meirelles. Com o título original "Blindness" e com argumento de Don McKeller, o filme é uma co-produção alargada a vários países, tendo sido rodado no Brasil, Canadá e Uruguai. Uma das condições que Saramago impôs para a concessão dos direitos autorais, foi a de que não se fizesse menção a nenhum país em especial. Com música de Luiz Bonfá, "Blindness" tem em Julianne Moore, Mark Ruffalo e Gael García Bernal os intérpretes dos personagens principais, os quais, tal como acontece no livro, não têm nome. Um homem fica cego, inexplicavelmente, quando se encontra no seu carro no meio do trânsito. A cegueira alastra como «um rastilho de pólvora». Uma cegueira colectiva, um mundo com as contradições da espécie humana. Não se situa em nenhum tempo específico. É um tempo que pode ser ontem, hoje ou amanhã. As ideias a virem ao de cima, sempre na escrita de Saramago. A alegoria. O poder da palavra a abrir os olhos, face ao risco de uma situação terminal generalizada.

Saramago foi convidado a assistir à estreia do filme na abertura do Festival de Cannes de 2008, mas os seus médicos não o autorizaram a viajar. Assim sendo, foi o próprio realizador que se deslocou a Lisboa para lhe apresentar o filme em primeira mão. Saramago gostou imenso do que viu, dizendo-se tão feliz como quando acabou de escrever o livro. Meirelles não resistiu a beijar e abraçar o escritor no fim da projecção.

No entanto, numa conferência de imprensa realizada durante um banquete em Setembro de 2008, Marc Maurer, Presidente da Federação Americana dos Cegos, afirmou que a sua organização condenava quer o filme quer o livro onde o mesmo tinha sido baseado, pois considerava que a cegueira era usada como metáfora de tudo quanto era mau no pensamento humano e que os intervenientes eram apresentados como incompetentes, viciados e depravados. No seguimento de tais declarações, foram organizados vários protestos contra o filme pela organização.



MINI-BIOGRAFIA:

 Autor de mais de 40 títulos, José Saramago nasceu em 1922, na aldeia de Azinhaga. As noites passadas na biblioteca pública do Palácio Galveias, em Lisboa, foram fundamentais para a sua formação. «E foi aí, sem ajudas nem conselhos, apenas guiado pela curiosidade e pela vontade de aprender, que o meu gosto pela leitura se desenvolveu e apurou.» Em 1947 publicou o seu primeiro livro que intitulou "A Viúva", mas que, por razões editoriais, viria a sair com o título de "Terra do Pecado". Seis anos depois, em 1953, terminaria o romance "Claraboia", publicado apenas após a sua morte. No final dos anos 50 tornou-se responsável pela produção na Editorial Estúdios Cor, função que conjugaria com a de tradutor, a partir de 1955, e de crítico literário. Regressa à escrita em 1966 com "Os Poemas Possíveis"Em 1971 assumiu funções de editorialista no Diário de Lisboa e em Abril de 1975 é nomeado diretor-adjunto do Diário de Notícias. No princípio de 1976 instala-se no Lavre para documentar o seu projecto de escrever sobre os camponeses sem terra. Assim nasceu o romance "Levantado do Chão" e o modo de narrar que caracteriza a sua ficção novelesca. Até 2010, ano da sua morte, a 18 de junho, em Lanzarote, José Saramago construíu uma obra incontornável na literatura portuguesa e universal, com títulos que vão de "Memorial do Convento" a "Caim", passando por "O Ano da Morte de Ricardo Reis", "O Evangelho segundo Jesus Cristo", "Ensaio sobre a Cegueira", "Todos os Nomes" ou "A Viagem do Elefante", obras traduzidas em todo o mundo. No ano de 2007 foi criada em Lisboa uma Fundação com o seu nome, que trabalha pela difusão da literatura, pela defesa dos direitos humanos e do meio ambiente, tomando como documento orientador a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Desde 2012 a Fundação José Saramago tem a sua sede na Casa dos Bicos, em Lisboa. José Saramago recebeu o Prémio Camões em 1995 e o Prémio Nobel de Literatura em 1998. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou postumamente, a 16 de novembro de 2021, José Saramago com o grande-colar da Ordem de Camões, pelos "serviços únicos prestados à cultura e à língua portuguesas", no arranque das comemorações do centenário do nascimento do escritor.

(Post by Jota Marques)

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