«"Ensaio sobre a Cegueira" é uma espécie de imago mundi, uma imagem do mundo em que vivemos: um mundo de intolerância, de exploração, de crueldade, de indiferença, de cinismo. Mas dirão: "Também há gente." Pois há, mas o mundo não vai nessa direcção. Há pessoas humanizáveis, pessoas que se vão humanizando por um esforço de supressão de egoísmos. Mas o mundo no seu conjunto não vai nessa direcção.» (José Saramago)
No centenário do nascimento de José Saramago (16/11/1922 -18/6/2010) recomenda-se esta edição comemorativa de "Ensaio Sobre a Cegueira", um dos seus romances mais interessantes e cinemáticos, por isso mesmo já transposto para cinema em 2008 pelo realizador paulista Fernando Meirelles. Com o título original "Blindness" e com argumento de Don McKeller, o filme é uma co-produção alargada a vários países, tendo sido rodado no Brasil, Canadá e Uruguai. Uma das condições que Saramago impôs para a concessão dos direitos autorais, foi a de que não se fizesse menção a nenhum país em especial. Com música de Luiz Bonfá, "Blindness" tem em Julianne Moore, Mark Ruffalo e Gael García Bernal os intérpretes dos personagens principais, os quais, tal como acontece no livro, não têm nome. Um homem fica cego, inexplicavelmente, quando se encontra no seu carro no meio do trânsito. A cegueira alastra como «um rastilho de pólvora». Uma cegueira colectiva, um mundo com as contradições da espécie humana. Não se situa em nenhum tempo específico. É um tempo que pode ser ontem, hoje ou amanhã. As ideias a virem ao de cima, sempre na escrita de Saramago. A alegoria. O poder da palavra a abrir os olhos, face ao risco de uma situação terminal generalizada.
Saramago foi convidado a
assistir à estreia do filme na abertura do Festival de Cannes de 2008, mas os
seus médicos não o autorizaram a viajar. Assim sendo, foi o próprio realizador
que se deslocou a Lisboa para lhe apresentar o filme em primeira mão. Saramago
gostou imenso do que viu, dizendo-se tão feliz como quando acabou de escrever o
livro. Meirelles não resistiu a beijar e abraçar o escritor no fim da projecção.
No entanto, numa conferência de imprensa realizada durante um banquete em Setembro de 2008, Marc Maurer, Presidente da Federação Americana dos Cegos, afirmou que a sua organização condenava quer o filme quer o livro onde o mesmo tinha sido baseado, pois considerava que a cegueira era usada como metáfora de tudo quanto era mau no pensamento humano e que os intervenientes eram apresentados como incompetentes, viciados e depravados. No seguimento de tais declarações, foram organizados vários protestos contra o filme pela organização.
MINI-BIOGRAFIA:
(Post by Jota Marques)
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