quinta-feira, 29 de junho de 2023
segunda-feira, 17 de abril de 2023
JOAQUIM PESSOA (1948 > 2023)
O poeta, artista plástico e publicitário Joaquim Pessoa, autor de poemas como "Lisboa, menina e moça" e "Amélia dos olhos doces", morreu esta segunda-feira, aos 75 anos, vítima de doença prolongada, informou a editora Edições Esgotadas. O escritor José Jorge Letria confirmou à Lusa a morte de Joaquim Pessoa na última madrugada, adiantando que o poeta estava internado e que lutava há muito tempo contra uma doença grave. O também poeta e jornalista, que era próximo de Joaquim Pessoa, destacou a sua extensa obra poética, lembrando que foi autor de letras musicadas e interpretadas por Carlos Mendes, como é o caso da "Amélia dos olhos doces", uma das mais famosas, bem como de "Lisboa, menina e moça", criada em parceria com José Carlos Ary dos Santos e Fernando Tordo. Considerando que o país perdeu um "poeta importante", José Jorge Letria lembrou, a esse propósito, que foi criado na Moita um prémio de poesia anual com o seu nome.
Joaquim Pessoa viu ainda o seu nome ser atribuído a ruas na
Baixa da Banheira (também no município da Moita) e no Poceirão (concelho de
Palmela). Nascido no Barreiro a 22 de fevereiro de 1948, Joaquim Maria Pessoa
destacou-se profissionalmente como poeta, artista plástico, publicitário e como
estudioso de arte pré-histórica. Formado em Marketing e Publicidade, foi
diretor criativo e diretor-geral de várias agências de publicidade e autor ou
coautor de diversos programas de televisão, como "1000 Imagens",
"Rua Sésamo" e "45 Anos de Publicidade em Portugal", entre
outros. Joaquim Pessoa foi também director da Sociedade Portuguesa de Autores,
entre 1988 e 1994, director literário da Litexa Editora, director do jornal
Poetas & Trovadores, colaborador das revistas Sílex e Vértice e do jornal a
Bola. Juntamente com Ary dos Santos, Fernando Tordo, Carlos Mendes, Paulo de
Carvalho e Luiz Villas-Boas, entre outros, fundou a cooperativa artística "Toma
Lá Disco". Em colaboração com Luís Machado, organizou em 1983 o I Encontro
Peninsular de Poesia, que reuniu prestigiados nomes da poesia ibérica. Conta
com mais de 600 recitais da sua poesia, realizados em Portugal e no
estrangeiro.
quinta-feira, 12 de janeiro de 2023
quarta-feira, 30 de novembro de 2022
"CARMEN" EM PORTUGUÊS
sexta-feira, 21 de outubro de 2022
TENTAREMOS PASSAR
Os meus dedos costumam andar loucos
sobre a tua pele
ou folheando livros
ou segurando com impaciência
os auscultadores dos telefones.
Já alguma vez reparaste nos meus dedos?
Eles vieram do fundo de um rio de prata
como a Excalibur
e um dia hão-de lá voltar manchados de sangue,
talvez já rugosos e sem harmonia
incapazes
frios
tolerantes.
Por enquanto eles abrem brechas
derrubam árvores e cavam trincheiras
constroem cercas para o amor
alisam as penas do medo
e pagam adiantado o serviço do corpo que os mantêm vivos
capazes de acusar
de perdoar
de colocar um rastilho de dinamite na boca do silêncio
de violentar qualquer noite
escorando os túneis que vão dar à insatisfação e ao inferno.
Se os meus dedos segurarem os teus
o que é que de novo acontece?
Construiremos uma casa, uma cabana, um palácio?
Repetiremos o percurso até à exaustão?
Quero acreditar que desconheço o caminho
e que a sua erva terá aos nossos pés uma nova resposta.
É aliciante pensar que chegaremos onde
ainda hoje não poderemos pensar.
Não adianta encher as mãos.
Quando há que caminhar-se muito
não convém demasiado peso.
Já basta o coração.
Ele transportará a inquietação,
carregará todas as dúvidas,
e talvez tropece na sua própria angústia
ou fique preso na armadilha.
De qualquer modo, dá-me as tuas mãos.
Aqui tens as minhas.
Tentaremos passar.
(Joaquim Pessoa in “125 Poemas”, 1982)
(Post by Jota Marques)
quarta-feira, 12 de outubro de 2022
JOAQUIM PESSOA: ANTOLOGIA
125 POEMAS (Editora Litexa, 1982)
O AUTOR:
Joaquim Maria Pessoa nasceu no Barreiro em 22 de Fevereiro de 1948. Poeta, artista plástico, publicitário e estudioso de arte pré-histórica, iniciou a carreira no Suplemento Literário "Juvenil" do Diário de Lisboa. O seu primeiro livro, "O Pássaro no Espelho", veio a público em Março de 1975. Em 1982 ganhou o Prémio de Poesia da Secretaria de Estado da Cultura em colaboração com a Associação Portuguesa de Esritores pela obra "O Livro da Noite", publicado no ano anterior. Outras obras, publicadas até à presente antologia: "Poemas de Perfil" (1975), "Amor Combate" (1977), que estaria na génese do album homónimo de Carlos Mendes, "Canções de Ex-Cravo e Malviver" (1978), que se tornaria também noutro album de Carlos Mendes, "Português Suave" (1979), "Os Olhos de Isa" (1980) e "Os Dias da Serpente" (1981). Foi diretor diretor-geral de várias agências de publicidade e autor ou co-autor de diversos programas de televisão ("1000 Imagens", "Rua Sésamo", "45 Anos de Publicidade em Portugal", etc.). Desempenhou durante seis anos (1988-1994) o cargo de director da Sociedade Portuguesa de Autores. Em colaboração com Luís Machado, organizou em 1983 o I Encontro Peninsular de Poesia, que reuniu prestigiados nomes da poesia ibérica. Conta com mais de 600 recitais da sua poesia, realizados em Portugal e no estrangeiro. Foi director literário da Litexa Editora, director do jornal "Poetas & Trovadores", colaborador das revistas "Sílex" e "Vértice" e do jornal "A Bola". Fundou ainda a cooperativa artística "Toma Lá Disco", com Ary dos Santos, Fernando Tordo, Carlos Mendes, Paulo de Carvalho e Luiz Villas-Boas, entre outros. Até à presente data publicou mais de três dezenas de obras, incluindo três antologias. Em 2001 começou a ser publicada a Obra Poética, em 7 volumes, que reunirá a maior parte dos seus poemas. Os seus textos constam igualmente de vários livros de ensino de literatura e língua portuguesa. Está traduzido em inglês, francês, russo, castelhano e búlgaro. (fonte: Wikipédia)
trazer-me as tuas mãos, as tuas brancas mãos.
Vem percorrer o meu corpo lentamente
mergulhar nua nos seus lagos
saciar-te nas suas fontes.
Vem. Cobrir-te de beijos.
Encherei as tuas horas, os teus minutos, com uma alegria
inesperada.
Desvendarei antes da noite
o segredo que existe nos bosques molhados da mais estranha
solidão,
onde te esperam inquietos os meus braços,
a minha boca chama em silêncio a tua boca,
e o amor acontece
para lá da fronteira das palavras.
Oh, vem, quero alimentar-me de ti
como uma planta carnívora.
Como o lobo devora o corpo da gazela.
Quero que a minha língua percorra em delírio as tuas coxas
e os meus dentes mordam e cantem no teu peito.
Quero sentir o meu desejo correr nas tuas veias.
A minha fome perder-se nos teus músculos.
O teu ventre estremecer nas minhas mãos.
O teu gemido crescer na minha voz.
Vem, amiga. Viajarei contigo
à procura de nós em cada beijo.
Nunca houve palavras para gritar a tua ausência.
Apenas o coração
pulsando a solidão antes de ti
quando o teu rosto doía no meu rosto e eu descobri as
minhas mãos
sem as tuas
e os teus olhos não eram mais que o lugar escondido onde
a primavera
refaz o seu vestido de corolas.
E não havia um nome para a tua ausência.
Mas tu vieste.
Do coração da noite?
Dos braços da manhã?
Dos bosques do outono?
Tu vieste.
E acordas todas as horas.
Prenches todos os minutos.
Acendes todas as fogueiras.
Escreves todas as palavras.
Um canto de alegria desprende-se dos meus dedos
quando toco o teu corpo e habito em ti
e a noite não existe
porque as nossas bocas acendem na madrugada
uma aurora de beijos.
Oh, meu amor,
doem-me os braços de te abraçar,
trago as mãos acesas,
a boca desfeita
e a solidão acorda em mim um grito de silêncio quando
o medo de perder-te é um corcel que pisa os meus cabelos
e se perde depois numa estrada deserta por onde
caminhas nua
como se estivesses triste.