I remember you
well in the ChelseaHotel You were
talking so brave and so sweet Giving me head
on the unmade bed While the
limousines wait in the street. Those were the
reasons and that was New York We were running
for the money and the flesh And that was
called love for the workers in song Probably still
is for those of them left Ah but you got
away, didn't you babe? You just turned
your back on the crowd You got away, I
never once heard you say «I need you, I
don't need you» «I need you, I
don't need you» And all of that
jiving around... I remember you
well in the ChelseaHotel You were famous,
your heart was a legend You told me
again you preferred handsome men But for me you
would make an exception And clenching
your fist for the ones like us Who are oppressed
by the figures of beauty You fixed
yourself, you said, «Well never mind We are ugly but
we have the music» Ah but you got away, didn't you babe? You just turned your back on the crowd You got away, I never once heard you say «I need you, I don't need you» «I need you, I don't need you» And all of that jiving around... I don't mean to
suggest that I loved you the best I don't keep
track of each fallen robin I remember you
well in the ChelseaHotel That's all, I
don't even think of you that often
***
Lembro-me
bem de ti no Hotel Chelsea Falavas
tão séria e tão doce Chupando-me
na cama desfeita Enquanto
as limusines esperam na rua Foram
estas as razões e foi em Nova Iorque Corríamos
atrás do dinheiro e da carne E a
isso chamavam amor os operários da canção Provavelmente
ainda lhe chamam os que sobram Ah,
mas tu desapareceste, não foi querida? Viraste
apenas as costas à multidão Desapareceste,
nunca te ouvi dizer «Preciso
de ti, não preciso de ti Preciso
de ti, não preciso de ti» E
todos esses disparates... Lembro-me
bem de ti no Hotel Chelsea Eras
famosa, o teu coração uma lenda Disseste-me
de novo que preferias homens belos Mas
para mim abrias uma excepção E
cerrando os punhos para alguém como nós Que
estão oprimidos pelas imagens da beleza Endireitaste-te
e disseste: «Bem, não faz mal Somos
feios, mas temos a música» Ah,
mas tu desapareceste, não foi querida? Viraste
apenas as costas à multidão Desapareceste,
nunca te ouvi dizer «Preciso
de ti, não preciso de ti Preciso
de ti, não preciso de ti» E
todos esses disparates... Não
pretendo sugerir que fui quem mais te amou Não
sigo as pisadas de cada tordo caído Lembro-me
bem de ti no Hotel Chelsea Mas é
tudo, nem sequer penso tanto em ti
(Tradução
livre de Jota Marques)
Tal
como muitas outras personalidades da época, Leonard Cohen tinha um amor
especial pelo Hotel Chelsea, em Nova Iorque: «É um desses hoteis que têm tudo
quanto eu quero de um hotel. Porque se às 4 da manhã levas para o quarto um anão,
um urso e quatro raparigas, ninguém se preocupa com isso.» Em 1968, Cohen e
Janis Joplin encontravam-se hospedados no Chelsea. E, de acordo com a revista
Rolling Stone, encontraram-se os dois no elevador uma noite. Janis andava à
procura de Kris Kristofferson, porque pretendia gravar uma música dele (a célebre
"Me and Bobby McGee" que ficaria célebre mais tarde) e Cohen
limitou-se a dizer que ele era o Kris Kristofferson. «Eram tempos generosos»,
recordou Cohen mais tarde: «mesmo sabendo de que eu era mais baixo do que o
Kristofferson, não se importou...» E deram por si a partilhar uma cama por fazer no quarto de Cohen.
Mesmo
que Cohen só tivesse admitido aquela aventura de uma noite bastante mais tarde,
Janis não teve qualquer prurido em falar do caso numa entrevista, até porque não
tinha sido caso único. Ela era uma mulher totalmente desinibida, que teve inúmeros
parceiros sexuais nessa época, como Jim Morrison, por exemplo. Quanto a Cohen, escreveu
"Chelsea Hotel #2" depois da morte de Janis Joplin, em Los Angeles,
a 4 de Outubro de 1970, com 27 anos. Mais tarde o compositor arrepender-se-ia
de tornar pública essa relação. Cohen começou a escrever a canção em 1971, num
bar dum restaurante polinésio, em Miami e acabou-a em Asmara, na Etiópia, em
1974, quando o reinado de Haile Selassie chegou ao fim. A canção foi incluída
no album "New Skin for the Old Ceremony", editado em 11 de Agosto de
1974 com o nome de "Chelsea Hotel #2" por já existir uma versão
mais longa que no entanto Cohen não gostava e por isso nunca chegou a ser
gravada.
Um dia ele chegou tão
diferente Do seu jeito de sempre
chegar Olhou-a de um jeito muito
mais quente Do que sempre costumava
olhar E não maldisse a vida Tanto quanto era seu
jeito de sempre falar E nem deixou-a só num
canto Pra seu grande espanto
convidou-a pra rodar Então, ela se fez bonita Como há muito tempo não
queria ousar Com seu vestido decotado Cheirando a guardado de
tanto esperar Depois os dois deram-se os
braços Como há muito tempo não
se usava dar E cheios de ternura e
graça Foram para a praça e
começaram a se abraçar E ali dançaram tanta
dança Que a vizinhança toda
despertou E foi tanta felicidade Que toda cidade se
iluminou E foram tantos beijos
loucos Tantos gritos roucos como
não se ouvia mais Que o mundo compreendeu E o dia amanheceu em paz (Chico Buarque/Vinicius
de Moraes)
Título
original: Clapton - the Autobiography E.C.
Music Limited, 2007 Editora: Casa das Letras, Maio de 2008 Tradução: Pedro Serras Pereira Dimensões: 150 X 230 X 23 mm Foto da capa: Norman Watson, 1999 Nº de páginas: 370 ISBN: 978-972-461-803-6
Mais do que uma estrela
de rock, Eric Clapton é um ícone, uma personificação viva da história da música
rock. Bem conhecido pela sua reserva numa profissão marcada pela autopromoção,
o exibicionismo e o exagero, decidiu agora contar-nos, pela primeira vez, a sua
notável história pessoal e profissional. Nascido filho ilegítimo em 30 de Março de
1945, Eric foi criado pelos avós, nunca conheceu o pai e, até aos nove anos de
idade, viveu convencido de que a sua mãe era sua irmã. Nos primeiros anos da
adolescência a guitarra foi o seu consolo, e o seu incrível talento iria fazer
dele um herói de culto nos clubes ingleses e inspirar os seus fãs mais devotos
a escrever, um pouco por todo o lado, "Clapton is God". The
Yardbirds, Cream, Blind Faith ou Derek & The Dominos foram os vários grupos
a que pertenceu (tocou ainda com Delaney & Bonnie), antes de iniciar a sua
imparável carreira a solo em 1970 com um primeiro album homónimo. O amor não
correspondido de Pattie Boyd, na altura mulher de George Harrison, fê-lo descer
aos locais mais sombrios do desespero, a uma reclusão auto-imposta e à dependência
de drogas durante três anos (1971-1974).
Consegue superar essa
fase e finalmente alcança o amor de Pattie, que entretanto se tinha divorciado
de Harrison. "Layla" e "Wonderful Tonight" são as duas canções
icónicas dedicadas por Clapton à mulher que constituiu a sua grande paixão e
com a qual acabou por se casar em 1979. O casamento duraria dez anos, período
em que Clapton substituíu a heroína pelo álcool como o seu vício de eleição. Já
nos anos 90, Clapton tornar-se-ia pai. Mas justamente na altura em que a sua
vida se começava a recompor, foi atingido por um golpe terrível: Connor, o
filho de apenas 4 anos que teve com Lory Del Santo, uma actriz da televisão
italiana, cai de um 49º andar de Nova Iorque. Noutros tempos, Eric teria
reagido à tragédia refugiando-se no mundo das drogas. Mas felizmente tal não
voltou a acontecer e Clapton seguiu para diante com a sua música, respondendo à
perda de Connor com a beleza pungente de "Tears in Heaven".
Em 2002 casar-se-ia de
novo, com Melia McEnery, com quem teve quatro filhas. A família vive nos
arredores de Londres. Esta autobiografia de Clapton é uma história poderosa,
escrita por um sobrevivente, um homem que atingiu os píncaros do sucesso apesar
de todos os seus demónios. É um dos livros de memórias mais cativantes do nosso
tempo. «A cena musical tal como a vejo hoje é pouco diferente daquilo que era
quando eu estava a crescer. As percentagens são basicamente as mesmas - 95 por
cento de lixo, 5 por cento de música pura. (...) A música encontrará sempre uma
maneira de chegar até nós, com ou sem negócio, política, religião, ou qualquer
outra treta atrás.»
Pienso en ti interminablemente en ti quiero ser una respuesta para ti pienso en ti... Creo en ti inagotablemente en ti como tu que confiaste en mi saber creo en ti solo en ti Y despertar a tu lado cada amanecer y hace rodar mis labios sobre tu piel creo en ti Estoy en ti desesperadamente en ti y hasta hoy he aguantado sin hablar estoy en ti solo en ti
Título original: Patti Smith, She has the power (Ana Müshell, 2020)
Editora: Iguana, Penguin Random House (Outubro 2022)
Tradução: Maria do Carmo Romão
Capa: Adaptação de Teresa Coelho
Nº de páginas: 184
ISBN: 978-989-784-700-4
Comprado por 19,95€ em 20/11/2022 (FNAC-Allegro)
Um dos livros mais
sedutores que têm aparecido por aí. Profusamente ilustrado, quase como se de
uma banda desenhada se tratasse, é acompanhado por uma escrita simples mas
incisiva, que nos dá uma visão bastante abrangente da vida de Patti Smith. A escritora/ilustradora espanhola Anna Müshell faz uma homenagem sentida à cantora, através da sua
obra e das personagens que a inspiraram e acompanharam no percurso vital e
artístico. Neste livro, Ana Müshell desvenda com precisão e paixão a trajectória
da "madrinha do punk": desde a sua infância na zona rural de Nova
Jérsia até à sua estadia no boémio Chelsea Hotel em Nova Iorque. Passando pelos
primeiros recitais e concertos, esta é uma viagem pelas personagens, momentos,
álbuns, livros e inquietações que fazem parte da história desta lenda viva, uma
criadora em permanente diálogo com entes queridos que já não estão, numa luta
incansável para tornar o nosso mundo melhor.
«Se alguma vez quiseres procurar Patti Smith na tua cidade, fá-lo num café de charme. Pode ser a qualquer hora. Se vires ao fundo uma mulher só, de botas e casaco preto, com uma longa cabeleira grisalha e um gorro de lã, é provável que a tenhas encontrado. Estará certamente concentrada no seu caderno cheio de rabiscos e coisas escritas, com um exemplar de "Les Illuminations", do seu amado Arthur Rimbaud, em cima da mesa, escrevendo e recordando algum ente querido, perdida nos seus pensamentos e recordações, organizando-se e pensando que livro a acompanhará na próxima viagem. Encontrá-la-ás a tomar notas, num guardanapo de papel, sobre aquilo de que falará numa conferência, talvez sobre uma ideia ou um sonho. Quem sabe, estará a trabalhar no seu próximo romance... Acontece que, se tiver acabado de pedir o segundo café, e depois se tiver levantado para pagar e esquecido o casaco preto, é, sem dúvida, Patti Smith.»
Comprado por 40€ no dia 18 de Novembro de 2022 na FNAC-OEIRAS
A "Obra Completa de Jim
Morrison" constitui, sem qualquer dúvida, a colectânea mais importante dos
últimos anos. O leitor encontra nesta obra a antologia definitiva dos escritos
de Jim Morrison, que contém fotografias e excerptos manuscritos dos seus 28 diários.
Feito em colaboração com os herdeiros de Jim Morrison e inspirado numa lista
chamada "Plano para Livro", descoberta postumamente entre os seus
apontamentos, esta edição de referência e notável artigo de coleccionador
inclui, entre várias outras coisas, a obra não publicada com uma vasta selecção
de apontamentos dos seus diários, transcrições e fotografias raras e notas de
produção da última gravação de poesia de Morrison a 8 de Dezembro de 1970, o
diário de Paris reproduzido na totalidade (provavelmente o seu derradeiro
diário), excerptos dos apontamentos do julgamento de Miami de 1970, o guião e
paleta de cores do filme HWY, nunca lançado, letras completas publicadas e não
publicadas, e muito mais. É, sem dúvida, um título indispensável para a colecção
de qualquer fã ou apreciador da poesia e da música de Jim Morrison e dos The
Doors.
James Douglas Morrison
(1943-1971) foi um poeta, realizador, argumentista e vocalista e compositor dos
The Doors. Antes da sua morte, Morrison autopublicou três volumes de edição
limitada da sua poesia: "The Lords/Notes on Vision" (1969), "The New Creatures" (1969),
e "An American Prayer" (1970). A editora Simon &
Schuster publicou o conjunto "The Lords and The New Creatures" em 1970. As
edições póstumas dos escritos de Morrison incluem "Wilderness: The Lost Writings
of Jim Morrison, Volume I" (1988) e "The American Night: The Lost Writings of Jim
Morrison, Volume II" (1990).
BRIDGE OVER TROUBLED WATER (Composed by Paul Simon; recorded by Art Garfunkel in November 9, 1969)
When you're weary
Feeling small
When tears are in your eyes
I will dry them all
I'm on your side
When times get rough
And friends just can't be found
Like a bridge over troubled water
I will lay me down
When you're down and out
When you're on the street
When evening falls so hard
I will comfort you
I'll take your part
When darkness comes
And pain is all around
Like a bridge over troubled water
I will lay me down
Sail on, silver girl
Sail on by
Your time has come to shine
All your dreams are on their way
See how they shine
If you need a friend
I'm sailing right behind
Like a bridge over troubled water
I will ease your mind
PONTE SOBRE ÁGUAS AGITADAS
Quando estás cansada
A sentir-te em baixo
Quando tens lágrimas nos
olhos
Eu secá-las-ei a todas
Estou a teu lado
Quando os tempos ficam
difíceis
E os amigos não aparecem
Como uma ponte sobre águas
agitadas
Eu estender-me-ei contigo
Quando estás em baixo e
fora de ti
Quando estás na rua
Quando a noite cai tão intensa
Eu servir-te-ei de conforto
Ficarei a teu lado
Quando a escuridão chegar
E a dor estiver por todo o
lado
Como uma ponte sobre águas
agitadas
Eu estender-me-ei contigo
Navega, rapariga prateada
Navega sempre em frente
O teu tempo começou a
brilhar
Todos os teus sonhos estão
a caminho
Vê como eles brilham
Se precisares de um amigo
Eu navego mesmo atrás de
ti
Como uma ponte sobre águas
agitadas
Eu acalmarei teu pensamento
(Tradução livre de Jota
Marques)
A canção nasceu no Verão
de 69, quando Paul Simon começou a escrevê-la numa casa de férias alugada pelo
duo em Los Angeles. Curiosamente, tratava-se da mesma casa, localizada numa rua
chamada "Blue Jay Way", onde George Harrison tinha composto o tema
homónimo apenas dois anos antes. Na altura Art Garfunkel encontrava-se no
México, na rodagem do filme “Catch 22 / Artigo 22”. Nesse mesmo Verão a
realidade tomava o lugar do sonho e a 20 de Julho o Homem pisava pela primeira
vez solo lunar.
Cerca de um mês depois,
numas termas portuguesas, dois desconhecidos olhavam-se também pela primeira
vez e descobriam o Primeiro Amor (o tal que, segundo os entendidos, é suposto
durar toda uma vida). Ele tinha 16 anos, ela 14. O encontro foi breve. E pouco
tempo depois a distância intrometeu-se, só lhes permitindo palavras escritas
como consolo.
Entretanto Garfunkel,
regressado do México, teve a grata surpresa de Simon insistir que a voz em "Bridge"
fosse exclusivamente a sua. Assim foi e Art gravou o tema sózinho - as duas
primeiras estrófes em Nova Iorque, a terceira em Los Angeles - isto porque de
início a canção era para ter apenas duas partes, com uma letra completamente
diferente. A extensão ficou a dever-se à insistência de Garfunkel e também do
produtor Roy Halee. Consta que mais tarde Paul se arrependeu desse gesto
altruísta devido ao grande êxito alcançado pela canção - nada menos do que 5
Grammys: melhor gravação, melhor canção, melhor arranjo, melhor engenharia de
som e melhor canção contemporânea. Haveria ainda mais um Grammy para o album,
justamente considerado o melhor de 1970.
Quando o single e o album
homónimo saíram nos princípios de 1970, aquele romance de férias ganhou novo
alento e a canção tornou-se rapidamente num dos seus laços mais fortes: «Porque
não páro de ouvir “Bridge Over Troubled Water” e porque me vêm as lágrimas aos
olhos quando o faço? Porque desejo tanto ver-te, falar-te, estar a teu lado,
não em pensamentos, mas na realidade?» E depois de uma longa espera, o
re-encontro tão ansiado aconteceu enfim: «Pusémos o "Bridge" a tocar
e começámos a dançar, ternamente, muito juntos, experimentando um mundo de
sensações que nos estavam proibidas há tanto tempo! E depois foi o meu primeiro
beijo, o nosso primeiro beijo, e não sei descrever a beleza e a maravilha que
sentimos. Nessa tarde só essa música tocou no gira-discos e por incrível que
pareça nunca nos cansámos de a ouvir. Passámos o resto do dia assim, meio
adormecidos, meio acordados...»
Mas uma vez mais a
separação voltou a acontecer, só que então com carácter definitivo: «Partíamos
com as mãos docemente amarradas e os corações estoirando uma alegria breve,
quando a noite descia apaixonada como o longo beijo da nossa despedida»
(O tempo passou. Apenas o
tempo. E mais outro tempo também)
Existem amores, vagos e
fugidios, que duram apenas três dias. Mas há outros, raros e preciosos, que o
tempo e a saudade alimentam e que duram toda a vida. O nosso é destes e
regressou, passados quase 20 anos:
«Tu vieste.
E acordas todas as horas,
preenches todos os minutos,
acendes todas as
fogueiras, escreves todas as palavras.»
Foi um regresso breve,
transitório. Mas durou o suficiente para que a canção fosse ouvida de novo, uma
derradeira vez. Juntos. Ao entardecer.
(Como de costume o tempo
voltou a passar. Apenas o tempo.)
E mais outro tempo virá
ainda onde não saberás sequer o meu nome. Um nome que se apagará
pouco a pouco dos teus lábios, da tua memória. E seremos reduzidos a algumas
canções. Ou só a uma.
Come you masters of war You that build the big guns You that build the death planes You that build all the bombs You that hide behind walls You that hide behind desks I just want you to know I can see through your masks You that never done nothin' But build to destroy You play with my world Like it's your little toy You put a gun in my hand And you hide from my eyes And you turn and run farther When the fast bullets fly Like Judas of old You lie and deceive A world war can be won You want me to believe But I see through your eyes And I see through your brain Like I see through the water That runs down my drain You fasten all the triggers For the others to fire Then you set back and watch While the death count gets higher You hide in your mansion While the young people's blood Flows out of their bodies And is buried in the mud You've thrown the worst fear That can ever be hurled Fear to bring children Into the world For threatening my baby Unborn and unnamed You ain't worth the blood That runs in your veins How much do I know To talk out of turn? You might say that I'm young You might say I'm unlearned But there's one thing I know Though I'm younger than you Even Jesus would never Forgive what you do Let me ask you one question Is your money that good? Will it buy you forgiveness? Do you think that it could? I think you will find When your death takes its toll All the money you made Will never buy back your soul And I hope that you die And your death will come soon I will follow your casket By the pale afternoon And I'll watch while you're lowered Down to your deathbed And I'll stand over your grave 'Til I'm sure that you're dead
SENHORES DA GUERRA
Vinde, senhores da guerra Vós que construís todas as
armas Vós que construís os aviões
da morte Vós que construís as
grandes bombas Vós que vos escondeis atrás
de muros Vós que vos escondeis atrás
de secretárias Eu só quero que vocês
saibam Que consigo ver através
das vossas máscaras Vós que nunca fizestes
nada Senão construir para
destruir Vós brincais com o meu
mundo Como se fosse o vosso
brinquedinho Vós colocais-me uma arma
na mão E escondeis-vos dos meus
olhos E virais as costas e fugis
para bem longe Quando voam as balas
velozes Como o Judas de outrora Vós mentis e enganais Uma guerra mundial pode
ser ganha Vós quereis que acredite Mas vejo através dos
vossos olhos E vejo através da vossa
mente Como vejo através da água Que se escoa pelo cano
abaixo Vós firmais os gatilhos Para os outros dispararem Depois recuais e ficais a
ver Quando a contagem de
mortes se eleva Vós escondei-vos na vossa
mansão Enquanto o sangue dos
jovens Lhes escorre dos corpos E se enterra na lama Vós lançaste o pior dos
medos Que alguma vez se pode
proferir Medo de trazer filhos Ao mundo Por ameaçardes o meu filho Por nascer e sem nome Não valeis o sangue Que vos corre nas veias Quanto é que eu sei Para falar o que não devo Vós podeis dizer que sou
novo Vós podeis dizer que sou
ignorante Mas uma coisa há que eu
sei Ainda que seja mais novo
que vós Nem mesmo Jesus jamais Perdoaria o que fazeis Deixai-me fazer-vos uma
pergunta O vosso dinheiro é assim tão
bom CVomprar-vos-á o perdão Achais que poderia Penso que descobrireis Quando a vossa morte vier
cobrar o seu direito Que todo o dinheiro que
ganhastes Jamais vos resgatará a
alma E espero que vocês morram E a vossa morte chegue
depressa Seguirei o vosso caixão Na pálida tarde E ficarei a ver até vos
baixarem Ao vosso leito de morte E vou vigiar a vossa campa Até ter a certeza que
estais mortos
Tradução de Angelina
Barbosa e Pedro Serrano in "Canções Volume 1
(1962-1973)" Editora: Relógio D'Água,
Setembro de 2006
«Ensina-me a dançar.
Ensinas?» Anthony Quinn, na pele do inesquecível Zorba, responde a Alan
Bates: «Dançar? Disseste dançar? Anda, rapaz.» Então entra a música
de Mikis Theodorakis e o resto já se sabe. Dançam. Zorba ri, transborda vida. A
última cena do filme "Zorba, o Grego (Alexis Zorbás)", de Michael Cacoyannis (1964), a
partir da obra homónima do escritor grego Nikos Kazantzakis, é talvez uma boa
porta para a sua extensa obra. Zorbás é uma das criações mais inesquecíveis da
literatura - uma personagem da estatura de um Falstaff ou de um Sancho Pança. A
sua idade avançada não diminuiu o entusiasmo e o deslumbramento com que acolhe
tudo o que a vida lhe traz, esteja ele a trabalhar na mina, a confrontar os
monges loucos de um mosteiro na montanha, a embelezar as histórias da sua vida
ou a fazer amor para evitar o pecado. Zorbás conhece todas as alegrias e
tristezas da vida, e através do seu exemplo, o narrador alcança uma compreensão
genuína do que significa ser humano. Para seu deslumbramento e embaraço.
Mikis Theodorakis, autor da música de "Zorba, o Grego" (1964)
Publicado primeiramente em
inglês em 1952, "Vida e Andanças de Alexis Zorbás" é uma obra popular e bastante conhecida de Kazantzakis. Como outros tantos romances do autor, este
foi escrito numa fase tardia da sua vida, após vários anos a viajar, a
escrever, e a estudar religião e filosofia. O narrador do livro é modelado
conforme o rigor intelectual de Kazantzakis, ao passo que a personagem Zorba
parece ser uma personificação do élan vital encontrado na filosofia de Henri
Bergson, a cujas palestras Kazantzakis assistiu em Paris. O romance é narrado
por um escritor e intelectual cuja vida se cingiu aos livros e às ideias, ao
invés da vida concreta. Para mergulhar numa vida de acção, decide reabrir uma
mina abandonada na ilha de Creta. Zorba, um homem grande cheio de paixão e
entusiasmo pela vida, encontra o narrador à espera do barco para Creta, e
impulsivamente pede-lhe para partir com ele. Pressentindo que Zorba personifica
a vida que procura, o narrador aceita Zorba como companheiro e capataz da mina.
Irene Papas em "Zorba, o Grego" (1964)
São dadas as boas-vindas
aos dois na ilha, sendo que Zorba prontamente desenvolve uma relação com a
Madame Hortense, uma cortesã francesa envelhecida que recorda ter sido a amante
de vários almirantes entre outros. Ao passo que o narrador permanece
introspetivo e reservado, Zorba é tempestuoso e persegue cada tarefa e
oportunidade como ocasiões para uma possível celebração. E assim, deseja
possuir várias mulheres, canta, dança, luta, come e
trabalha – e todas estas actividades são cometidas com o mesmo deleite e
entusiasmo. Sem ilusões, acredita que tanto o homem como a mulher
são animais, e que as igrejas e os governos são antros de corrupção. Recusa-se
a aceitar o envelhecimento e a morte, mas continua a saborear o que de mau e
bom a vida tem para oferecer. Zorba insiste que o narrador persiga a viúva da vila, que
é odiada pelos habitantes pela sua beleza inacessível. Logo depois de o
narrador passar uma noite com ela, o cadáver de um jovem que foi recusado pela
viúva é encontrado. Apesar de Zorba lutar para a salvar, os habitantes acabam
por matá-la num sacrífico ritual sexualizado. Após o narrador prometer
a mão de Zorba em casamento a Madame Hortense, Zorba, com grande cortesia,
aceita o enlace devido à felicidade manifestada por Hortense. Contudo, antes da cerimónia ser
consumada, esta morre de pneumonia. O livro termina com a separação do narrador
e de Zorba.
Anthony Quinn e Alan Bates em "Zorba, o Grego" (1964)
O encontro real com George
Zorbás, um camponês mais velho, mineiro, de grande sabedoria e com quem
Kazantzakis estabeleceria uma relação de forte amizade, foi determinante para o
escritor. Kazantzakis, nas suas próprias palavras, diz que não é um
intelectual. Antes, «uma alma selvagem». Quem foi então aquele homem que
escreveu poesia, romances, ensaios filosóficos, guiões, livros de viagens, e
traduziu clássicos como "A Divina Comédia" de Dante ou o "Fausto"
de Goethe? O pintor Roussetos Panayotakis descreve-o como «uma corrente
elétrica». «Andava sempre com um chapéu de chuva e um livro ou jornal debaixo
do braço», diz ainda, trazendo à memória a sua imagem.
Nikos Kazantzakis
(1883-1957) foi o maior escritor da Grécia da primeira metade do século XX. Nasceu em Creta durante o
período de revolta contra o Império Otomano. Viveu uma vida repleta, com
incontáveis viagens, que alimentaram a sua escrita, aguçando o seu olhar
dirigido ao Homem como igual na essência em cada canto do mundo. Todavia,
talvez nada como a Grécia natal tenha alimentado as suas histórias. «Ele abria
as asas por todo o mundo e usando apenas lendas locais, que normalmente diriam
algo apenas para ao nativos de Creta, como o capitão Michalis ou Zorba, o
Grego, conseguia enfatizar os aspetos universais, e criar um universo acessível
a toda a gente, em todo o lado», afirma o escritor Nikos Chrissos. Escreveu
romances, poemas, ensaios, livros de viagens e peças de teatro. Mas mais do que
erudito, foi um homem de acção. Alistou-se como voluntário no Exército Grego
durante a guerra dos Balcãs, viajou pela Europa e pela Ásia, empenhando-se em
causas e combatendo ao lado das facções que apoiava. No seu epitáfio lê-se:
«Não tenho nenhuma esperança. Não tenho medo de nada. Sou livre.»
Alan Bates e Anthony Quinn em "Zorba, o Grego" (1964)
«No universo romancesco,
nomeadamente no "Cristo Recrucificado", há um conjunto vasto de
personagens-tipo que também são universais mas sem nunca deixarem de ter uma
componente muito evidente de ligação à terra cretense. Aliás, Kazantzakis é
primeiro que tudo cretense, e depois grego e universal», diz José António Costa
Ideias: «As personagens são universais, sobretudo na tentativa de conquista da
liberdade, que é tão importante para Kazantzakis, é por isso que é tão
importante o aspeto colectivo. Ele dá grande relevo às massas, ao colectivo.
mesmo no teatro há essa dimensão.»É autor de obras como "Cristo
Recrucificado", "O Bom Demónio", "Liberdade ou Morte",
"A Última Tentação de Cristo" ou "Carta a Greco", publicadas há muito em Portugal por editoras
como a Portugália e a Ulisseia, sobretudo em traduções a partir do francês.
O EP português da banda-sonora do filme (edição de 1965)
Kazantzakis aproximou-se
do socialismo, mas pedia tanto a bolcheviques como a fascistas que eliminassem
o seu nome dos seus livros: «É absolutamente contra a minha natureza pertencer
a um gangue ou a uma multidão.» «Há nele uma tentativa em parte conseguida de
síntese. Kazantzakis percorre várias linhas, várias áreas, aproxima-se de
várias correntes, como o Cristianismo, mas também o Budismo, o Marxismo... Essa
ânsia de conhecimento e de liberdade leva-o a contactar e até abraçar
pontualmente estes ideiais», afirma Costa Ideias. «Na dimensão espiritual do
autor, está em causa não tanto a "religião no sentido convencional do
termo", organizada, mas "uma procura incessante pelos limites do
próprio homem". Rejeitado por alguns cristãos, a relação com a Igreja foi,
aliás, problemática até ao final da sua vida. Depois de recusarem que o seu
corpo estivesse na capela da Arquidiocese de Atenas, Kazantzakis foi levado
para Creta, onde o arcebispo celebrou a missa fúnebre. Todavia, nenhum membro
do clero queria estar no enterro, por medo das reações. Acabou por fazê-lo um
padre militar num funeral onde estiveram milhares de pessoas e onde até à manhã
do dia seguinte a sua vida foi celebrada. Hoje em dia na Grécia está a
operar-se uma recuperação e reavaliação crítica da sua obra, sobretudo no meio
académica, mas também na opinião pública.»
Willem Dafoe em "A Última Tentação de Cristo" (1988)
«Talvez pela antiguidade
da sua vida e obra, pela hegemonia das literaturas inglesa, francesa, americana
e latino-americana, ou mesmo pela natureza iconoclasta do seu pensamento, se
possa explicar o motivo pelo qual tão pouco do trabalho de Nikos Kazantzakis
tenha chegado a Portugal até agora: apenas uma edição de 1984 de "Cristo
Recrucificado", o seu relato de uma encenação teatral da Paixão de Cristo
numa aldeia grega da Anatólia», refere Pedro Miranda na revista "Sábado".
E continua: «Não falamos afinal, apenas de um dos maiores e mais lidos autores
do século XX no seu país, mas de um escritor com larga repercussão
internacional, por nove vezes tido em conta pela Academia Sueca para vencer o
Nobel da Literatura e perdendo o último, de 1957, ano da sua morte, para Albert
Camus por apenas um voto. Camus diria, mais tarde, que Kazantzakis merecia a
distinção "100 vezes mais" do que ele próprio. Depois da sua morte,
contribuíram igualmente para a difusão do seu nome além-fronteiras duas grandes
obras cinematográficas baseadas no seu trabalho: "A Última Tentação de
Cristo", de Martin Scorsese (1988) com Willem Dafoe no papel de Jesus; e
"Zorba, o Grego", uma produção grega de 1964, que arrecadou 3 Óscares - melhor actriz secundária para Lila
Kedrova, Fotografia e Direcção Artística -, tendo obtido ainda mais 4 nomeações
- Filme, Realizador, Actor (Anthony Quinn) e Argumento-adaptado.
É na obra que agora nos
chega, pela primeira vez em português , que se baseia este último filme:
"Vidas e Andanças de Alexis Zorbás", geralmente tido como um dos
melhores livros de Kazantzakis. O que o filme capta na perfeição é a
caracterização de uma personagem absolutamente sui generis, eternizada no écran
por Anthony Quinn, num desempenho tido como o mais memorável da sua carreira:
um velho carismático e hedonista que ama a vida e a liberdade, e que entra na
vida do narrador simplesmente pedindo que o leve com ele na sua viagem, o que,
contra a sua natureza recatada, acaba por fazer. O que escapa à adaptação, no
entanto, é a dimensão espiritual do embate entre a personagem do narrador, qual
D. Quixote irremediàvelmente idealista, romântico e perdido nos seus livros
(uma versão ficcionada do próprio Kazantzakis) e Zorbás, um Sancho Pança pragmático,
impermeável a filosofias, o que o exorta a experienciar o mundo com as mãos e
os pés, em vez de com a cabeça, uma espécie de microcosmos do eterno confronto
entre razão e emoção. De facto, ler o romance é depararmo-nos, ao virar de cada
página, com uma nova inspecção da condição humana, seja pelo prisma do desapego
de Buda, do inferno de Dante ou do rumo certo para uma Humanidade perdida entre
Deus e o Diabo.»