Mostrar mensagens com a etiqueta Bob Dylan. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Bob Dylan. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 13 de abril de 2023

A FILOSOFIA DA CANÇÃO MODERNA

 

Título original: The Philosophy of Modern Song (2022)

Editora: Relógio D’Água Editores (Fevereiro de 2023)

Tradução: Pedro Serrano e Angelina Barbosa

Capa: Carlos César Vasconcelos, sobre foto de Bruce Perry 
(Little Richard, Alis Lesley e Eddie Cochran, aeroporto de Sydney, 28/09/1957)

Dimensões: 189 X 231 X 25 mm

Nº de páginas: 364

ISBN: 978-989-783-318-2

A Filosofia da Canção Moderna é o resultado de um trabalho iniciado em 2010, no qual Bob Dylan expõe a sua perspectiva da natureza da música popular. Escritos numa prosa única, os mais de sessenta ensaios focam-se em canções de outros artistas, desde Stephen Foster a Elvis Costello, ou de Hank Williams a Nina Simone. Apesar de, ostensivamente, serem sobre música, são meditações e reflexões sobre a condição humana. O livro conta ainda com uma cuidadosa recolha fotográfica, que é um dos pontos altos desta magnífica obra.

terça-feira, 15 de novembro de 2022

BOB DYLAN ~ "MASTERS OF WAR"

MASTERS OF WAR
(recorded April 24, 1963)


Come you masters of war
You that build the big guns
You that build the death planes
You that build all the bombs
You that hide behind walls
You that hide behind desks
I just want you to know
I can see through your masks
 
You that never done nothin'
But build to destroy
You play with my world
Like it's your little toy
You put a gun in my hand
And you hide from my eyes
And you turn and run farther
When the fast bullets fly
 
Like Judas of old
You lie and deceive
A world war can be won
You want me to believe
But I see through your eyes
And I see through your brain
Like I see through the water
That runs down my drain
 
You fasten all the triggers
For the others to fire
Then you set back and watch
While the death count gets higher
You hide in your mansion
While the young people's blood
Flows out of their bodies
And is buried in the mud
 
You've thrown the worst fear
That can ever be hurled
Fear to bring children
Into the world
For threatening my baby
Unborn and unnamed
You ain't worth the blood
That runs in your veins
 
How much do I know
To talk out of turn?
You might say that I'm young
You might say I'm unlearned
But there's one thing I know
Though I'm younger than you
Even Jesus would never
Forgive what you do
 
Let me ask you one question
Is your money that good?
Will it buy you forgiveness?
Do you think that it could?
I think you will find
When your death takes its toll
All the money you made
Will never buy back your soul
 
And I hope that you die
And your death will come soon
I will follow your casket
By the pale afternoon
And I'll watch while you're lowered
Down to your deathbed
And I'll stand over your grave
'Til I'm sure that you're dead



SENHORES DA GUERRA

 

Vinde, senhores da guerra
Vós que construís todas as armas
Vós que construís os aviões da morte
Vós que construís as grandes bombas
Vós que vos escondeis atrás de muros
Vós que vos escondeis atrás de secretárias
Eu só quero que vocês saibam
Que consigo ver através das vossas máscaras
 
Vós que nunca fizestes nada
Senão construir para destruir
Vós brincais com o meu mundo
Como se fosse o vosso brinquedinho
Vós colocais-me uma arma na mão
E escondeis-vos dos meus olhos
E virais as costas e fugis para bem longe
Quando voam as balas velozes
 
Como o Judas de outrora
Vós mentis e enganais
Uma guerra mundial pode ser ganha
Vós quereis que acredite
Mas vejo através dos vossos olhos
E vejo através da vossa mente
Como vejo através da água
Que se escoa pelo cano abaixo
 
Vós firmais os gatilhos
Para os outros dispararem
Depois recuais e ficais a ver
Quando a contagem de mortes se eleva
Vós escondei-vos na vossa mansão
Enquanto o sangue dos jovens
Lhes escorre dos corpos
E se enterra na lama
 
Vós lançaste o pior dos medos
Que alguma vez se pode proferir
Medo de trazer filhos
Ao mundo
Por ameaçardes o meu filho
Por nascer e sem nome
Não valeis o sangue
Que vos corre nas veias
 
Quanto é que eu sei
Para falar o que não devo
Vós podeis dizer que sou novo
Vós podeis dizer que sou ignorante
Mas uma coisa há que eu sei
Ainda que seja mais novo que vós
Nem mesmo Jesus jamais
Perdoaria o que fazeis
 
Deixai-me fazer-vos uma pergunta
O vosso dinheiro é assim tão bom
CVomprar-vos-á o perdão
Achais que poderia
Penso que descobrireis
Quando a vossa morte vier cobrar o seu direito
Que todo o dinheiro que ganhastes
Jamais vos resgatará a alma
 
E espero que vocês morram
E a vossa morte chegue depressa
Seguirei o vosso caixão
Na pálida tarde
E ficarei a ver até vos baixarem
Ao vosso leito de morte
E vou vigiar a vossa campa
Até ter a certeza que estais mortos



Tradução de Angelina Barbosa e Pedro Serrano
in "Canções Volume 1 (1962-1973)"
Editora: Relógio D'Água, Setembro de 2006

(Post by Jota Marques)

domingo, 13 de novembro de 2022

AS CARTAS DE AMOR DE BOB DYLAN

São 42 missivas, 150 páginas, que o então Robert Zimmerman escreveu entre 1957 e 1959. Nelas, revela que planeia mudar de nome e vender um milhão de discos. A base de licitação é de 250 mil dólares. Aparentemente, o plano de Bob Dylan estava traçado desde o início. No final dos anos 1950, Robert Zimmerman, jovem habitante de Hibbing, no Minnesota, confidenciava em cartas enviadas à namorada, Barbara Ann Hewitt, que pensava mudar de nome e aspirava vender um milhão de discos com o seu rock’n’roll – o seu sonho, por esta altura, era integrar a banda de Little Richard, como escreveu no livro de turma de liceu de 1959. Vendeu bem mais (cerca de 125 milhões de discos, até à data) e não especificamente de rock’n’roll, mas, Nobel da Literatura à parte, podemos dizer que se cumpriu o que antecipava. Eis o que nos revela uma colecção de cartas, postas agora a leilão, enviadas pelo adolescente Dylan, entre 1957 e 1959, à sua namorada de então.

São 42 cartas, totalizando 150 páginas, o que nos mostra que o prazer da escrita era já realidade nesses anos formativos, e foram descobertas pela filha de Hewitt após a morte desta, em 2020. Nunca tornadas públicas anteriormente, as missivas e os envelopes, bem como um postal de Dia dos Namorados que a Billboard descreve como “sumptuoso”, estão a leilão em Boston, em lote único, com uma base de licitação de 250 mil dólares (sensivelmente o mesmo valor em euros). O leilão fecha no próximo dia 17. Bobby Livingston, da RR Auction, afirmou à Billboard que a colecção de cartas é «um dos arquivos de maior importância cultural do século XX» que a leiloeira já disponibilizou, constituindo um «relato na primeira pessoa dos anos de formação de Dylan». Não foram para já reveladas quaisquer transcrições, mas sabe-se, por exemplo, que as longas cartas incluem também poemas, e que entre os nomes imaginados para a transformação de Robert Zimmerman em estrela da canção não estava Bob Dylan – o jovem aspirante a músico pergunta à namorada o que acha das hipóteses Little Willie ou Elston.

O namoro acabou em 1959 – numa das últimas cartas, Bob Dylan pede a Barbara Ann que lhe devolva algumas fotografias que lhe enviara. Nesse ano, o músico viaja para Minneapolis para frequentar a Universidade do Minnesota, onde o fascínio pelo rock’n’roll dá lugar ao mergulho profundo nos sons e nas histórias da folk. Em Janeiro de 1961, quando chega a Nova Iorque, já não era Robert Zimmerman. Bob Dylan apresentava-se ao mundo. Barbara Ann ficou em Hibbing, ali casou, ali se divorciou, no final dos anos 1970, para não mais casar. Segundo a filha contou aos representantes da RR Auction, resistiu ao chamamento do velho namorado, que, no final dos anos 1960, a terá convidado a viajar ao seu encontro.

Bob Dylan, actualmente com 81 anos, lançou recentemente "The Philosophy of Modern Song" (Simon & Schuster), o primeiro livro que assina desde "Crónicas Vol. 1", de 2004 (edição portuguesa pela Ulisseia, no ano seguinte), em que escreve 66 curtos ensaios sobre canções que lhe são importantes por diferentes razões. Entre elas estão escolhas surpreendentes, como "Volare", de Domenico Modugno, a "London Calling" dos Clash ou "Blue Moon", por Dean Martin. Está também, obviamente, a "Tutti Frutti" de Little Richard, certamente banda sonora do jovem Robert enquanto escrevia nova carta à sua sweetheart de Hibbing. (Mário Lopes in Ípsilon-Público, 12/11/2022)

NOTA: A livraria LELLO do Porto conseguiu comprar as cartas de amor de BOB DYLAN!

(Post by Jota Marques)

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

AS CANÇÕES DE DYLAN

 

O que fez com que um músico de voz nasalada e apenas medianamente virtuoso a nível técnico se tornasse uma lenda que se tem mantido viva desde os anos 60? O que explica que um cantor popular arredio a entrevistas, publicidade e aparições públicas tenha cerca de meio milhão de citações na Internet, que vão desde extensas páginas totalmente dedicadas à sua obra, em línguas que variam do inglês ao japonês, a teses universitárias ou a sites onde se fazem apostas sobre a sequência das músicas que tocará no próximo concerto? Que mistério se oculta por trás de uma personagem cujas letras de canções inspiraram fenómenos tão díspares como um grupo político radical («The Weatherman»), um festival nacional no Canadá («Winterlude») ou cujo nome da primeira namorada («Echo Helstrom») foi escolhido como designação por um conjunto de rock progressivo actual. Quarenta e cinco anos depois, com a perspectiva analítica que o tempo permite, a resposta a estas questões parece menos difícil: Bob Dylan absorveu velhas tradições da música popular norte-americana, as baladas do Norte e os blues do Sul, manteve-as vivas e expandiu-as. Porém, o que imortalizou o seu contributo para a história da música foi o ter trazido a literatura até ao rock'n'roll, cujas palavras cantadas se limitavam, até ele modificar o cenário, a rimas ingénuas e sem espessura narrativa. Depois de Dylan tudo mudou no panorama da música popular e o rock'n'roll tornou-se um género que permitia contar histórias ou ilustrar emoções tal como a literatura, o cinema, a pintura ou qualquer outra arte dita maior.

A editora Relógio D'Água tem editados os 2 volumes das canções de Mr. Zimmerman, o primeiro de 1962 a 1973 (670 páginas) e o segundo de 1974 a 2001 (758 páginas). Tratam-se de edições bilingues, no inglês original e na tradução portuguesa, encontrando-se ainda inclusas dezenas de fotografias. Um must para todos os fans de Mr. Dylan e não só.

(Post by Jota Marques)