125 POEMAS (Editora Litexa, 1982)
Comprado na Livraria ZEN do Centro Comercial A. C. Santos
(Av. 5 de Outubro, 85, Loja 6, Lisboa, em Abril de 1983)
O AUTOR:
Joaquim Maria Pessoa nasceu no Barreiro em 22 de Fevereiro de 1948. Poeta, artista plástico, publicitário e estudioso de arte pré-histórica, iniciou a carreira no Suplemento Literário "Juvenil" do Diário de Lisboa. O seu primeiro livro, "O Pássaro no Espelho", veio a público em Março de 1975. Em 1982 ganhou o Prémio de Poesia da Secretaria de Estado da Cultura em colaboração com a Associação Portuguesa de Esritores pela obra "O Livro da Noite", publicado no ano anterior. Outras obras, publicadas até à presente antologia: "Poemas de Perfil" (1975), "Amor Combate" (1977), que estaria na génese do album homónimo de Carlos Mendes, "Canções de Ex-Cravo e Malviver" (1978), que se tornaria também noutro album de Carlos Mendes, "Português Suave" (1979), "Os Olhos de Isa" (1980) e "Os Dias da Serpente" (1981). Foi diretor diretor-geral
de várias agências de publicidade e autor ou co-autor de diversos programas de
televisão ("1000 Imagens", "Rua Sésamo", "45 Anos de
Publicidade em Portugal", etc.). Desempenhou durante seis anos (1988-1994)
o cargo de director da Sociedade Portuguesa de Autores. Em colaboração com Luís
Machado, organizou em 1983 o I Encontro Peninsular de Poesia, que reuniu
prestigiados nomes da poesia ibérica. Conta com mais de 600 recitais da sua
poesia, realizados em Portugal e no estrangeiro. Foi director literário da
Litexa Editora, director do jornal "Poetas & Trovadores",
colaborador das revistas "Sílex" e "Vértice" e do jornal
"A Bola". Fundou ainda a cooperativa artística "Toma Lá
Disco", com Ary dos Santos, Fernando Tordo, Carlos Mendes, Paulo de
Carvalho e Luiz Villas-Boas, entre outros. Até à presente data publicou mais de três
dezenas de obras, incluindo três antologias. Em 2001 começou a ser publicada a
Obra Poética, em 7 volumes, que reunirá a maior parte dos seus poemas. Os seus
textos constam igualmente de vários livros de ensino de literatura e língua
portuguesa. Está traduzido em inglês, francês, russo, castelhano e búlgaro. (fonte: Wikipédia)

Vem, amiga (1980)
Vem, amiga,
trazer-me as tuas mãos, as
tuas brancas mãos.
Vem percorrer o meu corpo
lentamente
mergulhar nua nos seus
lagos
saciar-te nas suas fontes.
Vem. Cobrir-te de beijos.
Encherei as tuas horas, os
teus minutos, com uma alegria
inesperada.
Desvendarei antes da noite
o segredo que existe nos
bosques molhados da mais estranha
solidão,
onde te esperam inquietos
os meus braços,
a minha boca chama em
silêncio a tua boca,
e o amor acontece
para lá da fronteira das
palavras.
Oh, vem, quero
alimentar-me de ti
como uma planta carnívora.
Como o lobo devora o corpo
da gazela.
Quero que a minha língua
percorra em delírio as tuas coxas
e os meus dentes mordam e
cantem no teu peito.
Quero sentir o meu desejo
correr nas tuas veias.
A minha fome perder-se nos
teus músculos.
O teu ventre estremecer
nas minhas mãos.
O teu gemido crescer na
minha voz.
Vem, amiga. Viajarei
contigo
à procura de nós em cada
beijo.
De onde me chegam estas
palavras? (1980)
De onde me chegam estas
palavras?
Nunca houve palavras para
gritar a tua ausência.
Apenas o coração
pulsando a solidão antes
de ti
quando o teu rosto doía no
meu rosto e eu descobri as
minhas mãos
sem as tuas
e os teus olhos não eram
mais que o lugar escondido onde
a primavera
refaz o seu vestido de
corolas.
E não havia um nome para a
tua ausência.
Mas tu vieste.
Do coração da noite?
Dos braços da manhã?
Dos bosques do outono?
Tu vieste.
E acordas todas as horas.
Prenches todos os minutos.
Acendes todas as
fogueiras.
Escreves todas as
palavras.
Um canto de alegria
desprende-se dos meus dedos
quando toco o teu corpo e
habito em ti
e a noite não existe
porque as nossas bocas
acendem na madrugada
uma aurora de beijos.
Oh, meu amor,
doem-me os braços de te
abraçar,
trago as mãos acesas,
a boca desfeita
e a solidão acorda em mim
um grito de silêncio quando
o medo de perder-te é um
corcel que pisa os meus cabelos
e se perde depois numa
estrada deserta por onde
caminhas nua
como se estivesses triste.
(Post by Jota Marques)