quarta-feira, 12 de outubro de 2022

JOAQUIM PESSOA: ANTOLOGIA

 125 POEMAS (Editora Litexa, 1982)

Comprado na Livraria ZEN do Centro Comercial A. C. Santos
(Av. 5 de Outubro, 85, Loja 6, Lisboa, em Abril de 1983)

O AUTOR:

Joaquim Maria Pessoa nasceu no Barreiro em 22 de Fevereiro de 1948. Poeta, artista plástico, publicitário e estudioso de arte pré-histórica, iniciou a carreira no Suplemento Literário "Juvenil" do Diário de Lisboa. O seu primeiro livro, "O Pássaro no Espelho", veio a público em Março de 1975. Em 1982 ganhou o Prémio de Poesia da Secretaria de Estado da Cultura em colaboração com a Associação Portuguesa de Esritores pela obra "O Livro da Noite", publicado no ano anterior. Outras obras, publicadas até à presente antologia: "Poemas de Perfil" (1975), "Amor Combate" (1977), que estaria na génese do album homónimo de Carlos Mendes, "Canções de Ex-Cravo e Malviver" (1978), que se tornaria também noutro album de Carlos Mendes, "Português Suave" (1979), "Os Olhos de Isa" (1980) e "Os Dias da Serpente" (1981). Foi diretor diretor-geral de várias agências de publicidade e autor ou co-autor de diversos programas de televisão ("1000 Imagens", "Rua Sésamo", "45 Anos de Publicidade em Portugal", etc.). Desempenhou durante seis anos (1988-1994) o cargo de director da Sociedade Portuguesa de Autores. Em colaboração com Luís Machado, organizou em 1983 o I Encontro Peninsular de Poesia, que reuniu prestigiados nomes da poesia ibérica. Conta com mais de 600 recitais da sua poesia, realizados em Portugal e no estrangeiro. Foi director literário da Litexa Editora, director do jornal "Poetas & Trovadores", colaborador das revistas "Sílex" e "Vértice" e do jornal "A Bola". Fundou ainda a cooperativa artística "Toma Lá Disco", com Ary dos Santos, Fernando Tordo, Carlos Mendes, Paulo de Carvalho e Luiz Villas-Boas, entre outros. Até à presente data publicou mais de três dezenas de obras, incluindo três antologias. Em 2001 começou a ser publicada a Obra Poética, em 7 volumes, que reunirá a maior parte dos seus poemas. Os seus textos constam igualmente de vários livros de ensino de literatura e língua portuguesa. Está traduzido em inglês, francês, russo, castelhano e búlgaro. (fonte: Wikipédia)


Vem, amiga (1980)
Vem, amiga,
trazer-me as tuas mãos, as tuas brancas mãos.
Vem percorrer o meu corpo lentamente
mergulhar nua nos seus lagos
saciar-te nas suas fontes.
 
Vem. Cobrir-te de beijos.
Encherei as tuas horas, os teus minutos, com uma alegria
                                                                   inesperada.
Desvendarei antes da noite
o segredo que existe nos bosques molhados da mais estranha
                                                                              solidão,
onde te esperam inquietos os meus braços,
a minha boca chama em silêncio a tua boca,
e o amor acontece
para lá da fronteira das palavras.
 
Oh, vem, quero alimentar-me de ti
como uma planta carnívora.
Como o lobo devora o corpo da gazela.
Quero que a minha língua percorra em delírio as tuas coxas
e os meus dentes mordam e cantem no teu peito.
 
Quero sentir o meu desejo correr nas tuas veias.
A minha fome perder-se nos teus músculos.
O teu ventre estremecer nas minhas mãos.
O teu gemido crescer na minha voz.
 
Vem, amiga. Viajarei contigo
à procura de nós em cada beijo.
 

 
De onde me chegam estas palavras? (1980)

De onde me chegam estas palavras?
 
Nunca houve palavras para gritar a tua ausência.
 
Apenas o coração
pulsando a solidão antes de ti
quando o teu rosto doía no meu rosto e eu descobri as
                                                            minhas mãos
sem as tuas
e os teus olhos não eram mais que o lugar escondido onde
                                                                   a primavera
refaz o seu vestido de corolas.
 
E não havia um nome para a tua ausência.
 
Mas tu vieste.
 
Do coração da noite?
Dos braços da manhã?
Dos bosques do outono?
 
Tu vieste.
 
E acordas todas as horas.
Prenches todos os minutos.
Acendes todas as fogueiras.
Escreves todas as palavras.
 
Um canto de alegria desprende-se dos meus dedos
quando toco o teu corpo e habito em ti
e a noite não existe
porque as nossas bocas acendem na madrugada
uma aurora de beijos.
 
Oh, meu amor,
doem-me os braços de te abraçar,
trago as mãos acesas,
a boca desfeita
e a solidão acorda em mim um grito de silêncio quando
o medo de perder-te é um corcel que pisa os meus cabelos
e se perde depois numa estrada deserta por onde
caminhas nua
como se estivesses triste.

(Post by Jota Marques)

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