Tradução de João Duarte Rodrigues e Manuel Alberto Valente
Dimensões: 147 X 205 X 12 mm
Nº de páginas: 144
ISBN: 978-972-372-077-8
Descrevendo
um arco bastante familiar, o do rapaz da província que se tornou um cidadão do
mundo, é através de um paciente exercício que esta poesia entrança a mitografia
das suas origens ao mais vasto arco da cultura Ocidental. É uma obra sem
rugosidades, escrita sobre uma lisa superfície, frases límpidas ao serviço de
um desejo de máxima comunicação (ou legibilidade), sem asperezas para o leitor.
Os poemas são um convite à identificação, uma descrição do homem médio, e a sua
dupla consistência vive de entretecer referências com vista a que tudo o
devolva a si mesmo. Nos melhores momentos derrama nos degraus de alguns versos
o efeito de um aforismo, bem escamado, sem espinhas. Uma poesia acessível, que
segue na faixa oposta à via hermética, segurando esse tom das frases sem dono,
que soam tão familiares ao ouvido da época, e que sintetizam uma ideia geral da
poesia contemporânea, o seu efeito relaxante. Para isso, traz no bolso um
punhado de grãos de areia mitológica trocados de mão em mão, uma garrafa de
plástico com água salgada, um pouco de Borges, umas raspas de Stevenson, para
estancar o mar num búzio, versos que não estranharíamos se escapassem a um
papagaio que tomou o hábito e o equilíbrio de vir ao ombro dos mais fiáveis
piratas de papel.
Sobre o trabalho poético de Juan Vicente Piqueras escreveu Jesús Bregante, autor do Diccionario de Literatura Española: «Alheio a modas, etiquetas e correntes literárias, é um dos poetas mais originais e interessantes do panorama literário espanhol. Os seus versos são de uma riqueza expressiva extraordinária, com uma delicada destreza na criação de imagens.» “Instruções para Atravessar o Deserto” é uma antologia preparada em diálogo com o autor e constitui a primeira tradução da sua poesia para português. Edição bilingue.
SE EU FOSSE A TI
Se eu fosse a ti amava-me, telefonava,
não perdia tempo, dizia-me que sim.
Não hesitava mais, fugia.
Dava o que tens, o que tenho,
para ter o que dás, o que me darias.
Soltava o cabelo, chorava
de prazer, cantava descalça, dançava,
punha em fevereiro um sol de agosto,
morria de prazer, não punha
nenhum “mas” a este amor, inventava
nomes e verbos novos, estremecia
de medo perante a dúvida de que fosse
só um sonho, fugia
para sempre de ti, de ali, comigo.
Se eu fosse a ti amava-me.
Dizia-me que sim, vinha
a correr para os meus braços,
ou pelo menos, sei lá, respondia
às minhas mensagens, às minhas tentativas
de saber que é feito de ti, telefonava-me,
que será de nós, dava-me
um sinal de vida, se eu fosse a ti.
(Post by Jota Marques)
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