terça-feira, 17 de janeiro de 2023

A CABANA DO PAI TOMÁS

 

Título original: Uncle Tom’s Cabin (1852)
Edição: Romano Torres (1971)
Tradução: Leyguarda Ferreira
Dimensões: 120 X 185 X 24 mm
Nº de páginas: 318

 Não há muitos livros que tenham causado tanto impacto como "A Cabana do Pai Tomás" escrito por Harriet Beecher Stowe.  Publicado entre 1851 e 1852 sob a forma de folhetim, num jornal antiescravagista  e recusado pelos primeiros editores a quem foi proposto sob a forma de livro, "A Cabana do Pai Tomás" acabaria por ser editado nesse formato em 1852. O livro vendeu 300.000 exemplares no primeiro ano, um número espantoso para a época. É o relato comovente da cruel separação de uma família negra e da vida repleta de sofrimento que o personagem Pai Tomás teve de enfrentar, o que faz desta obra um verdadeiro manifesto contra a escravatura, numa história de fé, coragem,  perseverança e luta. “A Cabana do Pai Tomás”,  foi o primeiro romance americano a vender mais de 1 milhão de exemplares, além de ser considerada por muitos como a obra de ficção mais influente já escrita. Ao ponto de ter sido proibida em vários estados sulistas e, por outro lado, de ter inspirado muitos líderes da abolição. Foi o romance mais vendido do século XIX e o segundo livro deste século, logo a seguir à Bíblia. Em 1855, três anos depois da primeira publicação, foi chamado "o romance mais popular dos nossos dias”. O impacto atribuído ao livro é enorme, reforçado por uma história de quando Abraham Lincoln conheceu Stowe no início da Guerra Civil, e lhe disse: «Então é esta a pequena senhora que deu início a esta grande guerra?» A citação não é reconhecida; só apareceu impressa em 1896, e tem sido alvo de discussão: "A longa presença da saudação de Lincoln como uma anedota em estudos literários e estudos sobre Stowe, pode talvez ser explicada em parte pelo desejo entre muitos intelectuais contemporâneos... de afirmar o papel da literatura como agente de mudança social."

“A Cabana do Pai Tomás” está escrito no estilo sentimental e melodramático comum nos romances do século XIX e da ficção doméstica (também designada por ficção para mulheres). Estes géneros eram os mais populares na época de Stowe, havia a tendência para ter personagens principais femininas e um estilo de escrita que tocava nas emoções e na simpatia dos leitores. Embora o romance seja diferente de outros, ao focar-se num tema de grande peso como a escravatura, e por ter um homem como figura central, Stowe tenta da mesma forma criar um ambiente de grandes sentimentos nos seus leitores. Apesar da reacção positiva dos leitores, durante décadas os críticos literários subvalorizaram o estilo encontrado em “Uncle Tom's Cabin” e outros romances sentimentais, porque estes livros eram escritos por mulheres e, por isso, eram influenciados pelas "emoções instáveis das mulheres."Uncle Tom's Cabin” indignou sobretudo as pessoas do Sul dos Estados Unidos. Académicos e leitores criticaram o livro por acharem que contém descrições racistas condescendentes das personagens negras do livro, especialmente no que diz respeito às aparências, bem como a natureza passiva do protagonista ao aceitar o seu destino. A utilização no romance de estereótipos comuns sobre os afro-americanos é significativo porque "A Cabana do Pai Tomás" foi o livro mais vendido no mundo durante o século XIX. Como resultado, o livro (juntamente com as suas ilustrações e produções teatrais associadas) desempenharam um papel importante na formação permanente desses estereótipos na mente americana. 

O famoso escritor sulista William Gilmore Simms declarou que a história era totalmente falsa, enquanto outros disseram que o romance era criminoso e calunioso. As reacções tomaram diversas formas, chegando ao ponto de serem enviadas cartas ameaçadoras a Stowe (incluindo um pacote contendo a orelha decepada de um escravo). Muitos escritores sulistas, como Simms, escreveram os seus próprios livros com versões opostas à de Stowe. No entanto, em 1985, Jane Tompkins expressou uma visão diferente de “Uncle Tom's Cabin” no seu livro "In Sensational Designs: The Cultural Work of American Fiction.” Tompkins elogia o estilo que tantos outros críticos subvalorizaram, escrevendo que os romances sentimentais mostraram como é que as emoções das mulheres tinham o poder para mudar o mundo para melhor. Mas acrescenta que os romances domésticos populares do século XIX, incluindo "Uncle Tom's Cabin", eram notáveis pela sua "complexidade intelectual, amição e desenvoltura"; e que "Uncle Tom's Cabin" transmite uma "crítica da sociedade americana mais devastadora do que qualquer outra feita por críticos mais conhecidos como Hawthorne e Melville.

Harriet Beecher Stowe nasceu em Litchfield, Connecticut, a 14 de Junho de 1811. Ela foi a sexta de 11 crianças nascidas de um padre calvinista, Lyman Beecher. A mãe, Roxana, foi uma mulher profundamente religiosa que morreu quando Stowe tinha apenas cinco anos. O avô materno de Roxana era o general Andrew Ward da Guerra Revolucionária. Harriet matriculou-se no Seminário Feminino de Hartford dirigido pela irmã mais velha, Catharine. Aí recebeu algo que as meninas raramente obtinham, uma educação académica tradicional, com foco em clássicos, línguas e matemática. Entre os seus colegas de classe estava Sarah P. Willis, que mais tarde escreveu sob o pseudónimo de Fanny Fern. Em 1832, com 21 anos, Harriet Beecher mudou-se para Cincinnati, Ohio, para se juntar ao pai, que se tinha tornado presidente do Seminário Teológico Lane. Começa nessa altura a frequentar um salão literário e clube social.  O comércio e o transporte marítimo de Cincinnati no rio Ohio estavam em fase crescente, atraindo vários migrantes de diferentes partes do país, incluindo muitos escravos fugitivos, caçadores de recompensas e imigrantes irlandeses que trabalhavam nos canais e ferrovias do estado. Em 1829, a etnia irlandesa atacou os negros, destruindo áreas da cidade, tentando expulsar esses concorrentes em busca de empregos. Beecher conheceu vários afro-americanos que sofreram esses ataques, e a experiência deles contribuiu para que ela escrevesse mais tarde sobre a escravidão. Harriet também foi influenciada pelos "Debates da escravidão". O maior evento já ocorrido em Lane (faculdade teológica presbiteriana em Walnut Hills, Ohio), foi a série de debates travados em 18 dias em Fevereiro de 1834, entre os defensores da colonização e da abolição, vencidos de forma decisiva por Theodore Weld e outros abolicionistas. Harriet participou da maioria dos debates. O pai e os curadores, com medo de mais violência dos brancos antiabolicionistas, proibiram qualquer discussão sobre o assunto. O resultado foi um êxodo em massa dos alunos de Lane, juntamente com um curador solidário e um professor, que se mudaram como um grupo para o novo Oberlin Collegiate Institute depois que seus curadores concordaram, por uma votação acirrada e amarga, em aceitar estudantes independentemente de "raça" e permitir discussões de qualquer tópico. Foi no clube literário de Lane que Harriet conheceu o Rev. Calvin Ellis Stowe, um viúvo que era professor de Literatura Bíblica no seminário. Vêm-se a casar no seminário em 6 de janeiro de 1836. Durante a sua vida, Harriet Stowe escreveu 30 livros, incluindo romances, três memórias de viagens e colecções de artigos e cartas. Foi influente tanto pelos seus escritos quanto pelas posições e debates públicos sobre as questões sociais da época. O mais famoso é na verdade o romance “Uncle Tom's Cabin / A Cabana do Pai Tomás", que alcançou uma audiência de milhões, tornando-se influente nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, energizando forças antiescravistas no norte estadunidense, enquanto provocava a raiva generalizada no sul. Harriet Stowe viria a falecer, com 85 anos, no dia 1 de Julho de 1896 em Hartford, EUA.

(Post by Jota Marques)

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