O calor era alucinante. A chuva caía pesada, num jogo de massacre.
Sentiu que tinha uma tremenda dor de cabeça. Dirigiu-se ao posto clínico.
- Isso é coisa sem importância – disse o médico.
- Tome estes comprimidos – deu-lhe três.
Tomou.
O calor continuava, sólido e exacto. A chuva também, persistente.
A dor de cabeça estava a aumentar. Voltou ao posto clínico.
- Vamos já tratar disso – afirmou o médico – Ora vire-se para lá.
Virou-se.
O médico proporcionou-lhe quatro supositórios.
O calor ainda; e a chuva. Sempre.
A dor de cabeça a estoirá-lo. Retornou ao posto clínico.
- Vai ver que fica bom – explicou o médico – Ora abra a boca.
Abriu.
O médico extraiu-lhe imediatamente dois molares e um canino.
O calor estava realmente alucinante. A chuva era espaço líquido.
A dor de cabeça a invadir-lhe o corpo todo. Foi ao posto clínico. Uma vez
mais.
- Então como vai isso? – perguntou o médico.
Puxou o facão e espetou-o, preocupado e consciente, através do médico.
Resultou.
(Mário-Henrique Leiria in “Contos do Gin-Tonic”, 1973)
(Post by Jota Marques)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Diga bem, diga mal, mas dê-nos a sua opinião: ela é muito importante para nós!