terça-feira, 11 de outubro de 2022

Leaves of Grass (1855) ~ Walt Whitman

FOLHAS DE ERVA 

Tradução: Maria de Lourdes Guimarães
Relógio D'Água (2002)


Poesia cativante dotada de profunda humanidade. A simbiose perfeita com a natureza do mundo, que habitamos, em toda a sua plenitude cambiante e dimensão... A explicação da nossa alma que nos acompanha a todos, omnipresente, até ao fim das nossas vidas… a simplicidade genial de um canto bondoso e feliz. (excelente tradução)


FOLHAS DE ERVA (Prémio Tradução do Pen Club 2002)
Tradução: Maria de Lurdes Guimarães
Editora: Relógio D'Água

FOLHAS DE ERVA (EDIÇÃO BILINGUE, 2 VOLS.)
Tradução: Maria de Lurdes Guimarães
Editora: Relógio D'Água


CANTO AQUELE QUE EXISTE EM SI MESMO

Canto aquele que existe em si mesmo, uma pessoa simples e
       independente,
Pronuncio, todavia, a palavra Democrático, a palavra En-Masse.
Canto o próprio organismo da cabeça aos pés,
Nem só a fisiognomonia nem apenas o cérebro são dignos da
Musa, afirmo que a Forma completa é muito mais digna,
Eu canto tanto a Mulher como o Homem.
A Vida imensa em paixão, vitalidade e força,
Com alegria, para que mais livre seja o impulso formado sob as
       leis divinas,
Eu canto o Homem Moderno.



MILAGRES

Ora, quem dá grande importância a um milagre?
Quanto a mim não conheço outras coisas que não sejam
       milagres, Quer passeie nas ruas de Manhattan,
Ou lance os olhos por cima dos telhados das casas e em direcção
       ao céu,
Ou molhe os pés ao longo da praia mesmo à beira da água,
Ou esteja debaixo das árvores nos bosques,
Ou fale com alguém que ame ou durma na cama, à noite, com
       alguém que ame,
Ou esteja sentado à mesa a jantar com os outos,
Ou olhe para estranhos à minha frente quando ando em
qualquer carro,
Ou observe as abelhas voando em redor da colmeia numa
       manhã de verão,
Ou os animais que pastam nos campos,
Ou os pássaros ou o prodígio dos insectos no ar,
Ou o prodígio do pôr-do-sol ou das estrelas cintilantes e serenas,
Ou a delgada curva, requintada e delicada, da lua nova na
       primavera;
Estas coisas e todas as outas são, para mim milagres,
Que se relacionam entre si embora cada uma seja distinta e
       tenha o seu lugar.
Para mim, cada hora de luz e de trevas é um milagre,
Cada polegada cúbica de espaço é um milagre,
Cada jarda quadrada na superfície da terra está coberta de
       milagres,
Cada pé do seu interior está deles cheio.
Para mim, o mar é um milagre perpétuo,
Os peixes que nadam – as rochas – o movimento das ondas – os
       navios com homens,
Que outros milagres mais estranhos existem?


UMA ARANHA PACIENTE E SILENCIOSA

Uma aranha paciente e silenciosa,
Reparei nela, sobre um pequeno promontório, onde se mantinha
       isolada,
Reparei como, para explorar o ambiente vasto e vazio,
Projectava filamentos, filamentos, filamentos,
Sempre a desenrolá-los, transportando-os sempre com rapidez,
       incansável.
E tu, ó minha alma, onde estás,
Cercada, isolada nos oceanos do espaço sem limites,
Incessantemente a meditar, a aventurar-se, a lançar-se, a
       procurar as esferas para as unir,

Até que a ponte que vais precisar se construa, até que a dúctil
       âncora se prenda,
Até que o fio da teia que tu lanças se agarre em qualquer lugar, ó
       minha alma.

(Post by Zé Marrana)

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