Este foi o primeiro e último livro que li às escondidas dos meus pais. Teria na altura os meus dez ou onze anos e vivia no bairro da COOP, nº 12 da Rua Gil Vicente, em Lourenço Marques. Juro desde já, e solenemente, que a culpa não foi minha. Acontece que descobri, na altura, que era o único livro que se encontrava afastado de todos os outros, bem camuflado num canto escuro do armário do quarto dos meus pais. Ora bem... deveria haver uma qualquer razão para tal disparidade e, como facilmente se entenderá, não descansei enquanto "não provei do fruto proibido". Vim a perceber mais tarde que o Harold Robbins era mais um americano sensacionalista do que um verdadeiro autor. Mas para um puto daquela idade o conteúdo era deveras excitante. E pronto, lá fui lendo o livro aos bocados, sempre na ausência dos meus pais. Até o dia em que inevitavelmente e também por descuido (os hábitos tendem a normalizar a rotina de todos os dias), fui apanhado em flagrante delito pela minha mãe: que isto e mais aquilo, que eu era um degenerado, enfim... podem imaginar o chorrilho de impropérios que estes ouvidos tiveram de suportar! E mais uma vez tive no meu querido pai a salvação. Quando chegou a casa naquele dia, e depois de posto ao corrente da "grave" situação, disse-me mais ou menos e apenas o seguinte: «Olha, rapaz (foi assim que sempre me tratou, até ao fim da sua vida), a partir de hoje podes ler o que quiseres e quando quiseres, porque isso só te trará experiência para a vida.» E foi assim que "Os Insaciáveis" regressaram ao convívio salutar com todos os outros livros que havia lá por casa. Muito mais tarde, quando da vinda para Portugal em Dezembro de 1974, a maior parte dos nossos livros não couberam na bagagem, porque evidentemente havia outras prioridades. Mas não descansei enquanto não consegui uma cópia exactamente igual, com a mesma capa e tudo! (Post by Jota Marques)
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