sexta-feira, 14 de outubro de 2022

MARGUERITE DURAS


Marguerite Duras, pseudónimo de Marguerite Donnadieu (Saigon, actual Cidade de Ho Chi Minh, 4 de Abril de 1914 — Paris, 3 de Março de 1996) foi uma romancista, poetisa, realizadora de cinema e dramaturga francesa, sendo considerada uma das principais vozes femininas da literatura do Século XX na Europa. Marguerite Duras nasceu na colónia francesa da Cochinchina, a sul do actual Vietname. A sua família retornou à França, onde estudou direito antes de se tornar escritora. Decidiu mudar o sobrenome de Donnadieu para Duras, nome de uma vila do departamento francês de Lot-et-Garonne onde se situava a casa do seu pai. É autora de diversas peças de teatro, novelas, filmes e narrativas curtas. O seu trabalho foi associado com o movimento chamado nouveau roman (novo romance) e com o existencialismo.

Entre as suas obras poder-se-ão salientar "Moderato Cantabile" (1958), "Le Vice-Consul" (1965), "L'Amour" (1971), "India Song" (1973), "La Maladie de la Mort" (1982), "L' Amant" (1984), que recebeu o prémio literário Goncourt e foi adaptado ao cinema em 1992 por Jean-Jacques Annaud, "La Douleur" (1985), "Les Yeux Bleus, Cheveux Noirs" (1986), "L'Amant de la Chine du Nord" (1991) ou o último "C'est Tout" (1995). Também é muito conhecida por ter escrito em 1959 o argumento do filme "Hiroshima, Mon Amor", a pedido do realizador francês Alain Resnais (premiado cineasta do movimento nouvelle vague). Duras também dirigiu filmes próprios, inclusive o conceituado "India Song" de 1976, muito embora a sua carreira cinematográfica não atingisse o reconhecimento da literária nos meios intelectuais e académicos. Marguerite Duras faleceu aos 81 anos de idade em Paris, vitimada por um cancro. Foi sepultada no cemitério de Montparnasse. 


Encontro-te.

Lembro-me de ti.

Esta cidade era feita à medida do amor.

Tu eras feito à medida do meu próprio corpo.

Quem és tu?

Matas-me.

Tinha fome.

Fome de infidelidades, adultérios, mentiras.

Fome de morrer.

Desde sempre.

Eu bem suspeitava que um dia me havias de aparecer.

Esperava-te com uma paciência sem limites, calma.

Devora-me.

Deforma-me à tua imagem,

       a fim de que nenhum outro, depois de ti,

       compreenda a razão de tanto desejo.

Vamos ficar sós, meu amor.

A noite não acabará

O dia não voltará a romper para ninguém.

Jamais. Nunca mais. Por fim.

Matas-me.

Fazes-me bem.

Choraremos conscienciosamente e com boa vontade o dia defunto.

Nada mais teremos a fazer senão chorar o dia defunto.

O tempo passará. Apenas o tempo.

E mais tempo há-de vir.

O tempo virá em que não saberemos que nome dar 

       ao que nos unirá.

O nome apagar-se-á a pouco e pouco da nossa memória.

Depois desaparecerá por completo.

 

VERSÃO ORIGINAL EM FRANCÊS:

Je te rencontre.

Je me souviens de toi.

Cette ville était faite à la taille de l'amour.

Tu étais fait à la taille de mon corps même.

Qui es-tu ?

Tu me tues.

J'avais faim.

Faim d'infidélités, d'adultères, de mensonges

Faim de mourir.

Depuis toujours.

Je me doutais bien qu'un jour tu me tomberais dessus.

Je t'attendais dans une impatience sans borne, calme.

Dévore-moi.

Déforme-moi à ton image afin qu'aucun autre, après toi,

       ne comprenne plus du tout le pourquoi de tant de désir. 

Nous allons rester seuls, mon amour.

La nuit ne va pas finir.

Le jour ne se lèvera plus sur personne.

Jamais. Jamais plus. Enfin.

Tu me tues.

Tu me fais du bien.

Nous pleurerons le jour défunt avec conscience et bonne volonté.

Nous n'aurons plus rien d'autre à faire, 

       plus rien que pleurer le jour défunt.

Du temps passera. Du temps seulement.

Et du temps va venir.

Du temps viendra.

Où nous ne saurons plus du tout nommer ce qui nous unira. 

Le nom s'en effacera peu à peu de notre mémoire.

Puis, il disparaîtra tout à fait.

  

Marguerite Duras in "Hiroshima, Mon Amour"
Éditions Gallimard, 1959
Quetzal Editores, 1991

(Post by Jota Marques)

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