Falas. E a tua voz é como uma espada, decepando flores azuis, que são um eco da minha resposta sem palavras (às vezes, é no calar que ficam as grandes respostas e as grandes verdades).
Eu tenho um pássaro, dentro da minha mão. Comi-lhe as asas e de vez em quando voo; habito então corpos dilacerados de esperar e almas mutiladas de desespero. Ouço-me dizer: «Dá de beber ao tédio, e sente-te livre!». E assim é. E assim faço. E assim vou entretendo esta impaciência de viver...
Tu, tu és simples, como as
flores selvagens que crescem livremente nos campos onde a liberdade é isso, sem
mais nada. Sem palavras, sem livros, sem pensamentos, sem influências...; ela
é, e isso é tudo! E tu és tudo, por isso mesmo! E invejo-te por o seres e nem
disso teres a consciência, tal a tua inocência, tal a tua maravilhosa
simplicidade, tal a limpidez da tua permanência neste rio barrento em que vamos
seguindo todos, imitando a vida, imitando a felicidade, imitando a ternura,
imitando..., imitando tudo! E que mais? O mais, o mais é essa luz indefinida
que ao teu olhar pertence, e onde a cor continua por acontecer. E eu canto,
canto esse brilho que me banha como uma estrela. Canto, e ao mesmo tempo choro
– sem lágrimas é certo, mas para dentro, que é como quem diz, a sorrir...
Não sei se gostarás disto,
desta retórica confusa e amarga, se a compreenderás como eu a compreendo ao
escrevê-la, pensando em tudo menos nisto que escrevo agora e aqui, ouvindo a
tua voz colher as minhas flores azuis no silêncio desta madrugada húmida e
fria, enquanto lado a lado caminhamos, juntos e sós, perto e já longe, olhando
o mistério multicolorido dos nossos olhos, onde despontam já os primeiros raios
de sol de um novo dia que nunca chega, mas que acreditamos porque há que
acreditar em qualquer coisa, mesmo que seja tudo utopia.
Não tenho nada, bem o sabes!
Mas pobres de nós, quando já nem pássaros pudermos ou soubermos inventar para
preencher esta fome e esta sede de tudo! Por isso escrevo, por isso digo, por
isso (te) grito:
«EU TENHO UM PÁSSARO, DENTRO
DA MINHA MÃO!»
Saberás tu entender esta mensagem tão simples, e fazer dela a ânsia maior da tua vida? Se souberes, ouve, se souberes, cala-te e não digas nada (às vezes, é no calar que ficam as grandes respostas e as grandes verdades).
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