Pintura a óleo (61 X 50 cm) de Luis Castro Lopo |
Chove. Há silêncio, porque
a mesma chuva
Não faz ruído senão com
sossego.
Chove. O céu dorme. Quando
a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento
é cego.
Chove. Meu ser (quem sou)
renego...
Tão calma é a chuva que se
solta no ar
(Nem parece de nuvens) que
parece
Que não é chuva, mas um
sussurrar
Que de si mesmo, ao
sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...
Não paira vento, não há
céu que eu sinta.
Chove longínqua e
indistintamente,
Como uma coisa certa que
nos minta,
Como um grande desejo que
nos mente.
Chove. Nada em mim
sente...
(Fernando Pessoa)
(Post by Jota Marques)
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