segunda-feira, 17 de abril de 2023

JOAQUIM PESSOA (1948 > 2023)

O poeta, artista plástico e publicitário Joaquim Pessoa, autor de poemas como "Lisboa, menina e moça" e "Amélia dos olhos doces", morreu esta segunda-feira, aos 75 anos, vítima de doença prolongada, informou a editora Edições Esgotadas. O escritor José Jorge Letria confirmou à Lusa a morte de Joaquim Pessoa na última madrugada, adiantando que o poeta estava internado e que lutava há muito tempo contra uma doença grave. O também poeta e jornalista, que era próximo de Joaquim Pessoa, destacou a sua extensa obra poética, lembrando que foi autor de letras musicadas e interpretadas por Carlos Mendes, como é o caso da "Amélia dos olhos doces", uma das mais famosas, bem como de "Lisboa, menina e moça", criada em parceria com José Carlos Ary dos Santos e Fernando Tordo. Considerando que o país perdeu um "poeta importante", José Jorge Letria lembrou, a esse propósito, que foi criado na Moita um prémio de poesia anual com o seu nome.

Joaquim Pessoa viu ainda o seu nome ser atribuído a ruas na Baixa da Banheira (também no município da Moita) e no Poceirão (concelho de Palmela). Nascido no Barreiro a 22 de fevereiro de 1948, Joaquim Maria Pessoa destacou-se profissionalmente como poeta, artista plástico, publicitário e como estudioso de arte pré-histórica. Formado em Marketing e Publicidade, foi diretor criativo e diretor-geral de várias agências de publicidade e autor ou coautor de diversos programas de televisão, como "1000 Imagens", "Rua Sésamo" e "45 Anos de Publicidade em Portugal", entre outros. Joaquim Pessoa foi também director da Sociedade Portuguesa de Autores, entre 1988 e 1994, director literário da Litexa Editora, director do jornal Poetas & Trovadores, colaborador das revistas Sílex e Vértice e do jornal a Bola. Juntamente com Ary dos Santos, Fernando Tordo, Carlos Mendes, Paulo de Carvalho e Luiz Villas-Boas, entre outros, fundou a cooperativa artística "Toma Lá Disco". Em colaboração com Luís Machado, organizou em 1983 o I Encontro Peninsular de Poesia, que reuniu prestigiados nomes da poesia ibérica. Conta com mais de 600 recitais da sua poesia, realizados em Portugal e no estrangeiro.

quinta-feira, 13 de abril de 2023

A FILOSOFIA DA CANÇÃO MODERNA

 

Título original: The Philosophy of Modern Song (2022)

Editora: Relógio D’Água Editores (Fevereiro de 2023)

Tradução: Pedro Serrano e Angelina Barbosa

Capa: Carlos César Vasconcelos, sobre foto de Bruce Perry 
(Little Richard, Alis Lesley e Eddie Cochran, aeroporto de Sydney, 28/09/1957)

Dimensões: 189 X 231 X 25 mm

Nº de páginas: 364

ISBN: 978-989-783-318-2

A Filosofia da Canção Moderna é o resultado de um trabalho iniciado em 2010, no qual Bob Dylan expõe a sua perspectiva da natureza da música popular. Escritos numa prosa única, os mais de sessenta ensaios focam-se em canções de outros artistas, desde Stephen Foster a Elvis Costello, ou de Hank Williams a Nina Simone. Apesar de, ostensivamente, serem sobre música, são meditações e reflexões sobre a condição humana. O livro conta ainda com uma cuidadosa recolha fotográfica, que é um dos pontos altos desta magnífica obra.

 


terça-feira, 21 de março de 2023

PENSATEMPOS

Editora: Editorial Caminho (Abril 2005)
Grafismo: José Serrão
Dimensões: 136 X 210 X 9 mm
Nº de páginas: 160
ISBN: 972-211-687-8

A maior desgraça de uma nação pobre é que, em vez de produzir riqueza, produz ricos. Mas ricos sem riqueza. Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados. Rico é quem possui meios de produção. Rico é quem gera dinheiro e dá emprego. Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro. Ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele.

A verdade é esta: são demasiado pobres os nossos “ricos”. Aquilo que têm, não detêm. Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros. É produto de roubo e de negociatas. Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram. Vivem na obsessão de poderem ser roubados. Necessitavam de forças policiais à altura. Mas forças policiais à altura acabariam por lançá-los a eles próprios na cadeia. Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade. Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem.

O maior sonho dos nossos novos-ricos é, afinal, muito pequenito: um carro de luxo, umas efémeras cintilâncias. Mas a luxuosa viatura não pode sonhar muito, sacudida pelos buracos das avenidas. O Mercedes e o BMW não podem fazer inteiro uso dos seus brilhos, ocupados que estão em se esquivar entre chapas muito convexos e estradas muito côncavas. A existência de estradas boas dependeria de outro tipo de riqueza. Uma riqueza que servisse a cidade. E a riqueza dos nossos novos-ricos nasceu de um movimento contrário: do empobrecimento da cidade e da sociedade.

As casas de luxo dos nossos falsos ricos são menos para serem habitadas do que para serem vistas. Fizeram-se para os olhos de quem passa. Mas ao exibirem-se, assim, cheias de folhos e chibantices, acabam atraindo alheias cobiças. Por mais guardas que tenham à porta, os nossos pobres-ricos não afastam o receio das invejas e dos feitiços que essas invejas convocam. O fausto das residências não os torna imunes. Pobres dos nossos riquinhos!

São como a cerveja tirada à pressão. São feitos num instante mas a maior parte é só espuma. O que resta de verdadeiro é mais o copo que o conteúdo. Podiam criar gado ou vegetais. Mas não. Em vez disso, os nossos endinheirados feitos sob pressão criam amantes. Mas as amantes (e/ou os amantes) têm um grave inconveniente: necessitam de ser sustentadas com dispendiosos mimos. O maior inconveniente é ainda a ausência de garantia do produto. A amante de um pode ser, amanhã, amante de outro. O coração do criador de amantes não tem sossego: quem traiu sabe que pode ser traído.

Os nossos endinheirados-às-pressas não se sentem bem na sua própria pele. Sonham em ser americanos, sul-africanos. Aspiram ser outros, distantes da sua origem, da sua condição. E lá estão eles imitando os outros, assimilando os tiques dos verdadeiros ricos de lugares verdadeiramente ricos. Mas os nossos candidatos a homens de negócios não são capazes de resolver o mais simples dos dilemas: podem comprar aparências, mas não podem comprar o respeito e o afecto dos outros. Esses outros que os vêem passear-se nos mal-explicados luxos. Esses outros que reconhecem neles uma tradução de uma mentira. A nossa elite endinheirada não é uma elite: é uma falsificação, uma imitação apressada.

A luta de libertação nacional guiou-se por um princípio moral: não se pretendia substituir uma elite exploradora por outra, mesmo sendo de uma outra raça. Não se queria uma simples mudança de turno nos opressores. Estamos hoje no limiar de uma decisão: quem faremos jogar no combate pelo desenvolvimento? Serão estes que nos vão representar nesse relvado chamado "a luta pelo progresso"? Os novos-ricos (que nem sabem explicar a proveniência dos seus dinheiros) já se tomam a si mesmos como suplentes, ansiosos pelo seu turno na pilhagem do país. São nacionais mas só na aparência. Porque estão prontos a serem moleques de outros, estrangeiros. Desde que esses outros lhes agitem com suficientes atractivos acabarão vendendo o pouco que nos resta.

Alguns dos nossos endinheirados não se afastam muito dos miúdos que pedem para guardar carros. Os novos candidatos a poderosos pedem para ficar a guardar o país. A comunidade doadora pode ir às compras ou almoçar à vontade que eles ficam a tomar conta da nação. Os nossos endinheirados dão uma imagem infantil de quem somos. Parecem crianças que entraram numa loja de rebuçados. Derretem-se perante o fascínio de uns bens de ostentação. Servem-se do erário público como se fosse a sua panela pessoal. Envergonha-nos a sua arrogância, a sua falta de cultura, o seu desprezo pelo povo, a sua atitude elitista para com a pobreza. 

Como eu sonhava que Moçambique tivesse ricos de riqueza verdadeira e de proveniência limpa! Ricos que gostassem do seu povo e defendessem o seu país. Ricos que criassem riqueza. Que criassem emprego e desenvolvessem a economia. Que respeitassem as regras do jogo. Numa palavra, ricos que nos enriquecessem. Os índios norte-americanos que sobreviveram ao massacre da colonização operaram uma espécie de suicídio póstumo: entregaram-se à bebida até dissolverem a dignidade dos seus antepassados. No nosso caso, o dinheiro pode ser essa fatal bebida. Uma parte da nossa elite está pronta para realizar esse suicídio histórico. Que se matem sozinhos. Não nos arrastem a nós e ao país inteiro nesse afundamento.

                                                                (Mia Couto in Jornal “Savana”. Dezembro 2002)

(Post by Jota Marques)

segunda-feira, 20 de março de 2023

domingo, 19 de março de 2023

ESTES DIFÍCEIS AMORES

Editora: Dom Quixote (Setembro 2002)
Dimensões: 154 X 232 X 14 mm
Nº de páginas: 270
ISBN: 978-972-202-302-3

Júlio Machado Vaz nasceu no Porto, a 16 de Outubro de 1949. Médico psiquiatra, professor universitário e também escritor, colabora há várias décadas com a imprensa, a rádio e a televisão. Filho do professor universitário Júlio Machado de Sousa Vaz e da cantora Maria Clara, é bisneto de Bernardino Machado. Doutorou-se em Psicologia Médica e foi professor auxiliar do Departamento de Ciências do Comportamento do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto, onde foi regente da cadeira de Antropologia Médica, e ainda professor do Mestrado de Sexologia da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. É vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica. A 30 de Janeiro de 2006 foi feito Comendador da Ordem do Infante D. Henrique. Tem uma dúzia de livros publicados, destacando-se “O Sexo dos Anjos” (1991), “Domingos, Sábados e Outros Dias” (1993), “Estes Difíceis Amores” (2002), “O Amor é…” (2007) ou “À Escuta dos Amantes” (2019). Na rádio, marcou gerações com “O Sexo dos Anjos”; e, na televisão, ninguém esquece as “Sexualidades”, mantendo-se actualmente (Maio de 2009) na Antena 1 (RDP) com “O Amor é…” (com a jornalista Inês Menezes) de segunda a sexta e, aos domingos de manhã, em emissão alargada.