Fernando Arrabal faz parte dessa tradição estética que quer expressar toda a angústia da condição humana, e que reúne autores como Kafka, Borges, García Márquez e Ionesco, entre outros. Este seu romance, repleto de nonsense e de um estranho lirismo, celebra a vitória das forças obscuras do inconsciente sobre as luzes da razão. A vida, diz-nos Arrabal, é algo que não nos é dado compreender. Uma mulher da alta sociedade espanhola, que desejava ter uma criança “sem pai”, obtém os préstimos de um genitor ocasional e dá origem a uma estranha rapariguinha que, aos onze anos, fala já correntemente várias línguas e cujos conhecimentos suscitam uma admiração generalizada. A mãe pretende que a sua filha seja a Rosa Mística, uma salvadora do mundo capaz de forjar a pedra filosofal e estabelece uma rígida educação para atingir esse objectivo. Alguns anos mais tarde, todavia, aquela que a opinião pública aprendera a conhecer como “a Virgem Vermelha” é assassinada pela mãe, com seis tiros de revólver. «É a tremer com todo o meu corpo que te escrevo. Com que imensos escrúpulos relatei aos polícias e aos juízes, desprovida de artifício e de fingimento, como fui obrigada a sacrificar-te. Desde então, confidente única do meu próprio tormento, sou assaltada por tantos tumultos que não existe dor que eu não tenha abrigado no meu coração, nem tortura que não tenha sofrido.»
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Fernando Arrabal Terán (Melilha, 11 de agosto de 1932) é um escritor, dramaturgo e cineasta espanhol. Vive em França desde 1955, e segundo a sua própria definição é um desterrado. Aprendeu a ler e escrever em Cidade Rodrigo (Castela e Leão), onde venceu o prémio nacional de «superdotado» aos dez anos. Realizou os estudos universitários em Madrid. Ainda criança sofreu o misterioso desaparecimento do pai, depois de ter sido condenado à morte. A causa deste trauma, como escreveu o prémio Nobel Vicente Aleixandre, "El conocimiento que aporta Arrabal está teñido de una luz moral que está en la materia misma de su arte" ("O conhecimento que carrega Arrabal está preso a uma luz moral que está na própria matéria de sua arte"). Arrabal foi julgado e preso pelo regime franquista em 1967 devido ao engajamento político de sua obra.
Durante seu encarceramento recebeu o apoio de inúmeros escritores da época, de François Mauriac a Arthur Miller, e uma declaração de Samuel Beckett ao tribunal pedindo sua absolvição: «Se existe culpa, que ela seja analisada à luz do grande mérito de ontem e da grande promessa de amanhã e, portanto, perdoada. Que Fernando Arrabal seja entregue à sua própria pena». Após a morte de Francisco Franco, foi incluído - ao lado de Santiago Carrillo, la Pasionaria, Líster e El Campesino - no grupo dos cinco espanhóis mais perigosos e impedido de retornar ao país. Anos mais tarde seria distinguido em Espanha com uma centena de condecorações, entre elas dois prémios nacionais de teatro. Algumas peças obtiveram grande sucesso como é o caso de "Carta de Amor", com María Jesús Valdés. Dirigiu sete longas-metragens, entre as quais "Viva la Muerte" (1971), "Irei Como um Cavalo Louco" (1973) ou "A Árvore de Guernica" (1975). Publicou catorze novelas, sete centenas de livros de poesía, vários textos para teatro, vários ensaios e a sua famosa "Carta al General Franco" em vida do ditador. O seu teatro completo editado nas principais línguas, tem sido publicado em dois volmes com mais de duas mil páginas, na Colección Clásicos Castellanos de España. Com Alejandro Jodorowsky e Roland Topor fundou em 1963 o Grupo Pânico. É Trascendent Satrape (Pataphysique) do Collège de 'Pataphysique desde 1990. Nos últimos 50 anos, quarenta personaldades receberam essa distinção, dentre elas: Marcel Duchamp, Eugène Ionesco, Man Ray, Boris Vian, Dario Fo, Umberto Eco e Jean Baudrillard. Amigo de Andy Warhol e de Tristan Tzara, participou do grupo surrealista de André Breton: Mel Gussow considerou-o o único sobrevivente dos "três avatares da modernidade".
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