terça-feira, 31 de janeiro de 2023

FAHRENHEIT 451

 
Título original: “Fahrenheit 451” (1953)
Editora: Publicações Europa-América (Abril 2011)
Tradução: Teresa da Costa Pinto Pereira
Capa: Estúdios P.E.A.
Dimensões: 153 X 228 x 10 mm
Nº de páginas: 200
ISBN: 978-972-105-086-0

Ray Bradbury (Illinois, 22/8/1920 – Los Angeles, 5/6/2012) é um dos mais influentes escritores norte-americanos do século XX e autor de mais de trinta obras de ficção, entre as quais se contam os célebres romances “Fahrenheit 451”, “Crónicas Marcianas” ou “A Morte é um Acto Solitário”, assim como centenas de contos. Escreveu igualmente para teatro, televisão e cinema, incluindo a famosa adaptação cinematográfica de John Huston do clássico “Moby Dick”. Oriundo de uma família desfavorecida, acompanhou a sua primeira migração para Tucson, no estado do Arizona, aos seis anos de idade, mas a tentativa de melhoria das condições de vida não foi bem sucedida. A família passou a alternar a sua vida entre Waukegan e Tucson, e o pai de Ray Bradbury chegou ao ponto de perder o emprego em 1932. Conseguiram finalmente estabelecer-se em Los Angeles no ano de 1934.

Encorajado pelos pais na sua criatividade, Ray Bradbury começou por querer ser mágico ilusionista, mas logo se voltou para a escrita. Aos dezassete anos de idade, inscreveu-se na Liga de Ficção Científica de Los Angeles, que o auxiliou na publicação de uma revista de amadores deste género literário. Em 1940, enquanto trabalhava como ardina, publicou o primeiro de muitos contos na popular revista Weird Tales, passando a dedicar-se à escrita a tempo inteiro três anos depois. Em 1947 publicou o seu primeiro livro de ficção científica, com o título “Dark Carnival”, obra que passou despercebida pela crítica. Seguiram-se “Martian Chronicles” (1950) e “The Illustrated Man” (1951).

O primeiro sucesso retumbante de Ray Bradbury aconteceu com o aparecimento de “Fahrenheit 451”, em 1953. A obra contava a história de um grupo de indivíduos que decora, cada um deles, um livro, para assim salvar certas obras das garras de uma censura incendiária. Curiosamente, o título da obra foi inspirado no grau de temperatura necessária à combustão do papel, 451º Fahrenheit, ou seja, cerca de 233º Centígrados. Escritor prolífico, Ray Bradbury foi também argumentista para as famosas séries televisivas “Alfred Hitchcock Presents” e “The Twilight Zone”, para além de ter servido como consultor não só na adaptação de cinco dos romances para o cinema, como também na edificação de partes do EPCOT Center da Disneylândia. Entre as suas muitas obras, destacam-se “Zen and the Art of Writing” (1973), “The Last Circus and the Electrocution” (1980), “The Stories of Ray Bradbury” (1980), “Driving Blind” (1997) e “One More For The Road: A New Short Story Collection” (2002).Ao longo da sua carreira, obteve inúmeros prémios e distinções como a National Book Foundation's Medal for Distinguished Contribution to American Letters, em 2000, a National Medal of Arts, em 2004 e o Pulitzer Prize Special Citation, em 2007. A sua obra está publicada em mais de 45 países.

Os 451 graus Fahrenheit de que fala este livro é a temperatura a que ardem as folhas dos livros. Por isso estamos aqui em presença de uma passagem do reino da cultura para o reino das cinzas. Os agentes da combustão são os bombeiros de uma cidade do futuro, onde se queimam os livros para se atingir a felicidade planificada, o conforto estandardizado, o bem-estar adormecido. Ray Bradbury escreveu em 1953; François Truffaut adaptou treze anos depois ao cinema. Ambos tomaram o partido do indivíduo contra a robotização maciça de uma sociedade que aprendeu a conservar unicamente o medo, entre todos os sentimentos humanos possíveis. O resto, o amor, a amizade, e todos os outros sentimentos, foram compulsivamente afastados, banidos. Ler um livro é, segundo o código vigente, viciar o espírito, perturbar a quietude, criar mal-estar, atormentar. É por isso urgente banir todo o desenvolvimento interior da vida do homem. Porque, sem os livros, sem as palavras, as frases ou as ideias, os homens deixam de comunicar.



Vigilantes, no seu quartel-general, os bombeiros e os seus lança-chamas esperam a denúncia dos refractários, dos que tentam fazer escapar ao controlo as letras de um alfabeto proibido. A Montag (Oskar Werner) é-lhe anunciada a próxima promoção: será capitão dos bombeiros, tendo em conta os seus bons serviços. Montag está casado com Linda (Julie Christie), mas ambos permanecem solitários no dia-a-dia. Depois conhece Clarisse (a mesma Julie Christie) e um outro mundo desperta-lhe a memória de tempos passados. Os livros entusiasmam-no! Redescoberto o essencial, Montag vai lutar por ele. Denunciado por Linda, perseguido pelos companheiros, refugia-se num centro de rebelião, onde os homens descobriram a maneira de resistir. Cada um deles decora o livro de que mais gostou, preservando-o assim para o futuro, para o tempo em que serão chamados a recitá-lo. No íntimo de cada um permanecem os valores que se não renegam nem se aceita ver destruídos.



Da ficção científica Truffaut recusa todas as facilidades. Trocando o robot mecânico pela mecanização do gesto humano, conseguiu um clima de inquietante antevisão de “um tempo de trevas” que as imagens demasiado quotidianas nos dizem estar próximo, ou poder acontecer de um momento para o outro. Oskar Werner, Julie Christie e Cyril Cusak formam o trio central dos intérpretes. Werner, seguro e maleável como sempre, constrói um Montag nervoso e vibrátil, inquieto. Julie Christie desdobra-se em duas figuras de recorte diferente. Cusak é o robotizado capitão, que gosta de ver as folhas de papel retorcerem-se e crepitarem nas chamas. Como escreveu Bradbury na introdução: «Era um prazer queimar. Era um prazer especial ver as coisas devoradas, ver as coisas enegrecidas e alteradas. Com o bico de bronze nas mãos fechadas, com esta grande píton a cuspir o querosene venenoso sobre o mundo, sentia o sangue bater-lhe nas têmporas e as mãos tornavam-se as mãos de uma espécie de maestro prodigioso, dirigindo todas as sinfonias ardentes, ao ritmo das quais se desmoronavam os farrapos e as ruínas carbonizadas da história».

(Post by Jota Marques)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Diga bem, diga mal, mas dê-nos a sua opinião: ela é muito importante para nós!