Ridículas
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas
como as outras
Ridículas
têm de ser
Ridículas
só as criaturas que nunca escreveram
cartas de amor
é que são
Ridículas
sem dar por isso
cartas de amor
Ridículas
as minhas memórias
dessas cartas de amor
é que são
Ridículas
como os sentimentos esdrúxulos
são naturalmente
Ridículas)
(Álvaro de Campos)
UMA CARTA DE AMOR
Lembras-te da primeira cartinha que te escrevi? Lembras-te de eu te dizer que era impossível gostares de mim? Agora acho impossível que possa ter duvidado que não podia haver amor no espaço oco da distância. E a prova veio ao meu encontro: prendi-me também à distância. Às vezes tento duvidar disso; mas porque anseio tanto por uma cartinha tua? Porque as leio e releio? Porque me detenho tanto tempo a olhar para ti? Porque estas duas palavras, "amo-te muito" que me dedicaste, me impressionaram tanto? Porque teimo em olhar milhares de vezes para elas? Porque desejo tanto que este ano acabe para te voltar a ver? Porque não tenho interesse por nada, porque gosto da solidão, coisa que detestava? Porque não páro de ouvir aquela música tão especial que já nos pertence? E porque me vêm as lágrimas aos olhos quando o faço? Porque, enfim, desejo tanto ver-te, falar-te, estar a teu lado, não em pensamentos, mas na realidade? E vem a certeza: também eu gosto muito muito de ti, não posso escondê-lo. E agora, que já o sabes nitìdamente, tenta por tudo arranjar uma vitória sobre todo este tempo que nos separa, pois eu estou à tua espera... (Letícia Peres, sábado, 16 de Maio de 1970)
(Post by Jota Marques)
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