segunda-feira, 31 de outubro de 2022

LOVE ME DO! A ASCENSÃO DOS BEATLES

 

Michael Braun Nasceu em 28 de Abril de 1936, em Nova Iorque, e formou-se na Universidade de Harvard, em 1958. Durante a década de 1960 e parte da década de 1970 viveu em Londres. De 1960 a 1963, foi assistente de Stanley Kubrick, que se tinha mudado para Londres para fazer "Lolita" e o "Dr. Strangelove", e mais tarde trabalhou para Roman Polanski. Em Londres, começou a escrever para o Observer e para o Sunday Times, tendo, no auge da sua carreira, acompanhado uma nova banda emergente chamada Beatles na sua primeira digressão britânica. Do seu diário de bastidores nasceu este "Love Me Do!", o primeiro livro alguma vez escrito sobre a lendária banda britânica. Ainda enquanto jornalista de terreno, cobriu todos os pontos problemáticos da época, do Vietname à África do Sul, da Rússia a Cuba, não se limitando à guerra e à revolução, e tornando-se amigo de Borges e Nabokov, assim como de inúmeras estrelas do mundo do espectáculo. Quando se mudou para Los Angeles, em meados dos anos 1970, desempenhou várias funções na indústria cinematográfica e na Broadway. Estava a produzir o musical "Titanic", quando, em 27 de Janeiro de 1997, morreu na sua casa em Manhattan.


Titulo original: Love Me Do! The Beatles' Progress
Michael Braun, Graymalkin Media, LLC 1964
1ª edição em Portugal: Guerra e Paz Editores, Outubro 2022
Tradução de Maria Ferro
ISBN: 978-989-702-879-3
A presente edição não segue a grafia do novo acordo ortográfico

Até mesmo os bibliógrafos mais hábeis se vêm aflitos para se manterem a par de todos os livros publicados sobre os Beatles. Uma biblioteca completa incluiria mais de 250 obras em inglês publicadas até à data e inúmeras outras escritas noutras línguas. Poucas contribuem grandemente para o conhecimento geral que já se tem sobre a vida e o trabalho dos Beatles.

"Love Me Do! A Ascenção dos Beatles" escapa decididamente a esta crítica. Embora tenha sido escrito numa fase inicial da carreira da banda, em 1963-1964, e esteja, portanto, relacionado apenas com a primeira parte da notável história dos Beatles, tem uma grande probabilidade de ser o melhor livro que alguma vez foi escrito sobre eles. Com toda a certeza, no que toca a oferecer uma visão das personalidades dos Beatles, é inigualável e, para quem procura sentir o pleno sabor do período em que a Beatlemania começou, "Love Me Do!" é fascinante e, a meu ver, insuperável.

Braun passou três meses na companhia do Beatles e daqueles que lhes eram próximos enquanto trabalharam primeiro nas províncias britânicas, depois em Londres, depois em Paris e depois nos Estados Unidos. Em "Love Me Do!", relata habilmente estas alegres aventuras de uma forma cativante que incita o leitor a prosseguir rapidamente, envolvido nas acções dos próprios Beatles, do pessoal que trabalha para eles, do grupo de jornalistas que os segue, da polícia que os protege e das fás que os perseguem.

"Love Me Do!" narra a história de forma idónea, sem receios e certamente sem dourar a pílula. De facto, talvez o aspecto mais marcante do livro seja a sua frontalidade. Não podemos esquecer que Michael Braun escreveu o livro numa altura em que os meios de comunicação social se recusavam a levar os Beatles a sério. Além de Braun, ninguém via para lá do cabelo comprido, das gomas Jelly Babies ou dos yeh, yeh, yeh. Enquanto outros mencionavam que os Beatles bebiam Coca-Cola, Braun não viu qualquer razão para esconder o facto de que também a bebiam com uísque.

Capa da edição original (1964)

Em suma, "Love Me Do!" mostrou que os Beatles eram humanos, com opiniões, inteligência, simpatias, antipatias, prazeres e frustações como qualquer outra pessoa. Revelou que o seu vocabulário podia ir além dos "diacho" e dos "ora bolas" de Billy Bunter - um facto que foi claramente um rude golpe para aqueles que pretendiam retratar os Beatles como sendo irrepreensíveis. Sem dúvida com receio de que os seus leitores pudessem descobrir tal coisa, a revista mensal destinada aos fãs dos Beatles não mencionou que "Love Me Do!" tinha sido publicado e o New Musical Express (NME), numa breve recensão publicada em Novembro de 1964, comentou que o livro continha «diálogos cáusticos, por vezes grosseiros, alegadamente deles.» Uma semana depois, o mesmo jornal publicou uma frase mordaz que relatava, quase com descrença, que «o novo livro de Michal Braun sobre os Beatles atribui esta citação a John Lennon: "Odiamos os discos do Cliff Richard"». (Imagine-se só!) Algumas semanas depois, demonstrando claramente o impacto que "Love Me Do!" estava a ter, apareceu mais uma menção: «Citado no livro de Michael Braun, George Harrison a dizer palavrões».

O NME chamou ao livro de Braun «um assassino de imagem» e questionava abertamente se os Beatles o apreciariam (claramente na esperança de que não fosse o caso). Imagino que provavelmente não se terão preocupado com o livro nem para bem nem para mal, mas teriam pelo menos apreciado a forma como Braun os retratou como pessoas reais. John Lennon lembrou-se de "Love Me Do!" durante a sua infame e reveladora entrevista à Rolling Stone, em 1970, quando, depois de rejeitar a biografia autorizada dos Beatles escrita por Hunter Davies, fez o seguinte comentário: «"Love Me Do!" era um livro melhor. Era um livro verdadeiro. Descreveu-nos como éramos, ou seja, uns verdadeiros sacanas. Não se consegue ser outra coisa quando se está sob tanta pressão».

Em nenhum outro lugar essa pressão é tão brilhantemente retratada como em "Love Me Do!" e nenhum outro livro sobre os Beatles alguma vez captou tão bem aqueles tempos que viveram. Indisponível há quase 30 anos, esta reedição é muito bem-vinda e, pessoalmente, acredito que seria uma lástima se este livro de Michael Braun - cuja leitura devia ser obrigatória para todos os estudantes e historiadores do século XX - caísse novamente na obscuridade.

Mark Lewisohn (autor de "The Complete Beatles Chronicle), Hertfordshire

 (Post by Jota Marques)

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