quinta-feira, 20 de outubro de 2022

EDGAR P. JACOBS

 

Edgar P. Jacobs (Edgard Félix Pierre Jacobs) nasceu em Bruxelas, a 30 de Março de 1904, e terá começado a desenhar desde muito pequeno. Os seus cadernos escolares de História reproduzem cenas quotidianas, batalhas, pormenores arquitectónicos ou de indumentária, a par do esmero colocado na caligrafia, revelando o seu talento. Após ter visto uma representação de "Fausto", em 1917, nasce a sua outra grande paixão, a ópera. Em 1919, acabou os seus estudos na escola comercial, por vontade dos pais. Paralelamente, continuou a desenhar, e a dedicar-se à música e ao teatro. Trabalhou como decorador, pintor e apoio a cenografia. Em 1929, recebeu a medalha de excelência em canto clássico, atribuída pelo governo belga. Durante os anos que esteve profundamente envolvido no meio operista, aproveitou também para utilizar o seu talento gráfico, concebendo projectos de indumentárias e maquetas de cenários. Trabalhou durante dez anos na Ópera de Lille, até ser mobilizado em 1939, com o eclodir da Segunda Guerra Mundial, e, posteriormente, com a invasão da Bélgica, pelo que a sua carreira ficou comprometida. Os tempos que se seguiram foram de crise financeira na comunidade artística belga. Jacobs decide então seguir a carreira de desenhador, elaborando ilustrações, e colaborando na revista "Bravo", até 1946. Esta revista foi um sucesso, chegando às 300.000 cópias, em cada edição.


Durante a 2ª Guerra Mundial, a banda desenhada "Flash Gordon" foi proibida na Bélgica, pelas tropas alemãs, ficando as suas histórias suspensas. Jacobs é convidado a terminar as histórias, mas as forças de ocupação alemãs censuraram o seu trabalho, pouco tempo depois. No seguimento desta proíbição, Jacobs publica o seu primeiro trabalho, "O Raio U", na revista "Bravo", semelhante às aventuras de "Flash Gordon". Por esta altura, Jacobs encontra-se a pintar os cenários para uma adaptação teatral de "Os Charutos do Faraó", de Hergé. Apesar do modesto sucesso da peça, Jacobs conhece Hergé, e tornam-se amigos. Jacobs é convidado para melhorar alguns livros das Aventuras de Tintin como "Tintin na África", "Tintin na América", "O Ceptro de Ottokar" ou o "O Lotus Azul". Após esta colaboração inicial, continuou a trabalhar nas histórias de Tintin, tanto no desenho, como no próprio argumento, casos de "O Segredo do Licorne", "O Tesouro de Rackham o Terrível", "As Sete Bolas de Cristal" e "O Templo do Sol".

O gosto de Jacobs por ópera, levou-o a convidar Hergé a assistir a vários concertos. Daqui terá surgido a ideia de criar a personagem Bianca Castafiore, das histórias de Tintin. Como agradecimento, Hergé dará o nome de Jacobini, a uma das personagens de "O Caso Girassol", que surge ao lado de Castafiore na ópera de Gounod ("Fausto"), e a um egiptólogo, no livro "Os Charutos do Faraó".  Em 1946, fez parte do grupo fundador da revista "Le Journal de Tintin", onde foi publicado o seu trabalho "O Segredo do Espadão", em 26 de Setembro, a primeira aventura de Blake & Mortimer. Os protagonistas são um capitão da força aérea ligado aos serviços secretos e um físico apaixonado pela arqueologia, ambos cidadãos britânicos, cultivando toda a série um ambiente muito british de meados do século XX. No ano seguinte, Jacobs sugere a Hergé ter parte dos direitos nas Aventuras de Tintin, mas este recusa, e a sua amizade é posta em causa. Mesmo assim, Hergé continua seu amigo, e os seus trabalhos continuam a ser incluídos na revista Tintin.

OLRIK, O Eterno Inimigo de Blake e Mortimer

Em 1950, Jacobs publica "O Mistério da Grande Pirâmide" (em 2 volumes), e três anos depois surge aquela que é a sua obra-prima absoluta, "A Marca Amarela". Segue-se "O Enigma da Atlântida" em 1955, e a partir daí os albuns de Jacobs tornam-se mundialmente conhecidos. Em 1971, recebeu o Grand Prix Saint-Michel, prémio atribuído pela cidade de Bruxelas, pelo seu trabalho na banda desenhada. Em 1973 escreve a sua autobiografia com o título "Un Opéra de Papier: Les Mémoires de Blake & Mortimer". Em 1986 criou a chancela Éditions Blake et Mortimer, que editou todos os álbuns num novo formato, com nova coloração e páginas suplementares, como sucedeu em "O Segredo do Espadão", editado em três volumes.

Depois de vários problemas de saúde e financeiros, que marcaram os seus últimos anos de vida, Rdgar P. Jacobs vem a falecer, vítima da doença de Parkinson, em Bruxelas, a 20 de Fevereiro de 1987, deixando uma obra pequena pelo número de títulos mas de inegável qualidade narrativa e plástica, que se tornou uma importante referência da BD franco-belga. O derradeiro álbum, o segundo volume de "Les 3 Formules du Professeur Sato" (o primeiro volume tinha sido publicado em 1970), cujos esboços deixou terminados, viria a ser concluído por Bob de Moor, sendo editado em 1990. Em 1996 Jean Van Hamme e Ted Benoit prosseguiram a série com grande êxito, a que se juntou, mais tarde, outra dupla de autores, Yves Sente e André. Em homenagem a Edgar P. Jacobs, foram construídas duas estátuas, uma no Bois des Pauvres, perto de Bruxelas, onde Jacobs tinha uma casa, e outra no seu túmulo, no cemitério de Lasne, também nas imediações da capital belga. Esta última lembra Philip Mortimer, um dos seus principais personagens.

(Post by Jota Marques)

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